Sua Santidade, Sua Alteza Real

22jul2013---multidao-cerca-o-papamovel-no-centro-do-rio-de-janeiro-durante-a-passagem-do-papa-francisco-pelas-ruas-da-cidade-nesta-segunda-feira-22-o-santo-padre-chega-ao-brasil-para-participar-da-1374539742638_956x500Multidões nem sempre são apenas reivindicatórias, ou de protestos, ou vandálicas, como temos visto. Há multidões que se juntam para a celebração. E elas são imemoriais: o povo sai às ruas para festejar a passagem do rei, do santo, do herói, para comemorar vítórias ou para manifestar alegria. Multidões recebem campeões esportivos, líderes políticos, generais vitoriosos, aplaudindo desfiles de escolas de samba, de carnaval, realizando procissões religiosas. No fundo, no fundo, acabamos – de alguma forma – aplaudindo Castro Alves que entendeu: “a praça é do povo como o céu é do condor.”

Há um outro sábio popular que tinha razão e do qual jamais deveríamos nos esquecer: o Joãosinho Trinta, saudoso. Ele – quando as elites quiseram massacrá-lo pela exuberância de cores e de paetês que imprimiu aos desfiles carnavalescos – sentenciou: “O pobre gosta de luxo; intelectual é que gosta de lixo.” Ele se referia aos militantes da antiga esquerda, rançosos, com gastrite, mal-humorados, indignados com a alegria.

De minha parte, estou  – há muitos e muitos anos – descrente da e com a república brasileira. Aliás, Saldanha da Gama – e não Prudente de Moraes, como insistem alguns – que foi um dos construtores da república após a queda do império, queixou-se amargamente: “Esta não é a república dos meus sonhos.” E de ninguém, a não se dos abutres que insistem em comer-lhe das últimas carnes. Esta não é a república e muito menos a democracia dos sonhos brasileiros. E uma república democrática verdadeira pode ser a realidade fraterna de povos de todo o mundo. Mas onde estaria ela, quando o governo é do poder econômico?

Sonhar com o possível isso serve para qualquer um. Sonhar com e querer o impossível, isso é para poucos. Dizem que para loucos, poetas, irrealistas. Confesso alinhar-me entre eles. Pois não acredito na realidade que sempre nos foi apresentada. É a realidade criada e formada por outras pessoas, grupos, instituições. Tenho que compartilhar dela, mas não sou obrigado a viver nela ou a conviver com ela. Por isso, vou criando a minha própria realidade e cada um, se for realmente esperto, deveria fazer o mesmo. Sonhar de olhos abertos enriquece a alma e fortalece o espírito, deixando a razão enlouquecida de dúvidas.

Por isso, sou a favor da monarquia constitucional. Como a que existe na Suécia, na Noruega, no Japão, na Espanha e, em especial, na Inglaterra. O Brasil é nostálgico da monarquia. Mais ainda: o Brasil tem a “memória da monarquia”. Temos reis e rainhas e princesas e príncipes para tudo.  Rei Pelé, Rei Roberto Carlos, Príncipe Neymar, Rainha Xuxa, Vice-Rei do Nordeste, Rei da Soja, Rei do Açúcar.

Observemos o entusiasmo, o ardor, a devoção, a quase veneração de multidões e multidões diante e em torno do Papa Francisco. Receber um aceno dele, ter uma criança beijada por ele, tocar-lhe nas vestes – cada gesto, cada toque assume um caráter de sacralidade. Ele – por mais simples seja – é o Monarca da Cristandade. E, como monarca, impõe uma autoridade moral que vale por muitos exércitos. De certa forma, é um sonho que se torna realidade. Ou a história da carochinha tornada verdadeira.

As multidões, no Brasil – e vindas de toda parte do mundo – saudaram, gritaram, celebraram a presença de Sua Santidade. E – quase à mesma hora em que ele pisou em solo brasileiro – na velha Inglaterra, outras multidões celebraram, saudavam, comemoravam, brindavam o nascimento de um bebê que, recém-nascido, já tem título: Sua Alteza Real. Os britânicos ufanam-se de sua monarquia, um símbolo de nobreza e de unidade nacional. Nem sabem, ainda, quem será o herdeiro da Rainha Elizabeth e já comemoram o surgimento do terceiro nome real da dinastia.

article-2242350-05713C6D0000044D-466_306x423A rainha reina mas não governa. O menininho real, nem bem nascido, já está destinado a reinar sem governar. O Papa reina e preside um colegiado que lhe dá a última palavra. O povo ama as monarquias constitucionais ou lideranças monárquicas espirituais. Vai daí, eu apostaria todas as fichas num Brasil parlamentarista numa monarquia constitucional. Assim,  quando Sua Santidade voltasse a nos visitar, seria recebido por Sua Alteza Real, que eu gostaria fosse o Joãozinho Orleans e Bragança. Bom dia.

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