Suicídio ou sobrevivência do Ocidente?

Um livro se tornou profético no final dos 1950, escrito pelo economista e frade Louis Joseph Lebret, o primeiro a busca uma face humana para o capitalismo. Trata-se da obra cujo título tomei emprestado à crônica: “Suicídio ou sobrevivência do Ocidente?” O padre Lebret – como era conhecido, por sua profunda sabedoria, conhecimentos extraordinários e ainda mais extraordinária humildade – previra a hecatombe que se avizinhava: o colapso do Ocidente por força dos terríveis equívocos em relação a valores econômicos. Pois, especialmente após a II Guerra Mundial, a voracidade de um capitalismo sem alma começou a atropelar tudo.

É óbvio serem múltiplas as causas desse colapso social em que o mundo mergulhou. A humanidade, em sua face ocidental, transformou-se como que numa manada, obediente a cordas econômicas invisíveis ou plenamente visíveis por um lado, desembestada moralmente por outro. E não mais há como negar estar deflagrado um já perceptível confronto entre duas maneiras de ser e de estar no mundo como que antagônicas: Oriente e Ocidente. A ascensão do Islã e sua propagação por todo o mundo já preocupa países, nações e obriga o Ocidente a confrontar-se com os seus próprios valores e suas incoerências: há mesmo uma civilização democrática ocidental? A chamada civilização cristã existe?

Ainda presos a visões eurocêntricas e seduzidos pelo decadente “american way of life” parecemos aqueles doentes, enfermos da alma que não conseguem mais enxergar, refletir e, muito menos, reagir. Agora mesmo, quando discutimos os destinos do Planeta, o horror do aquecimento global, tentamos colocar todos os países numa sacola só, como se as grandes questões de China, Índia pudessem estar ao nível de pequenos países africanos. A humanidade está ameaçada. Ou, mais verdadeiramente, a humanidade ameaça o mundo. E países como China e Índia, com populações absurdamente imensas, não conseguirão – mesmo que sensíveis ao grave problema – frear o modelo econômico que adotaram para a sobrevivência de seus biliões de seres humanos famintos. A multiplicação humana tornou-se como que uma peste mundial.

Os valores morais e religiosos do Oriente têm a solidez que se perdeu no mundo ocidental. Por mais nos pareçam estranhos e antiquados, são esses valores orientais que estabelecem um traço de união entre a população, ao contrário do esgarçamento moral do Ocidente, de nossa definitiva opção pelo profano em relação ao sagrado. O Ocidente perdeu o balizamento espiritual. Não temos mais herança cultural e moral a ser transmitida, ao passo que o Oriente impregna suas nações de tesouros espirituais bem definidos e marcantes, ainda que nos pareçam superados e ultrapassados. O total laicismo ocidental conduziu a percepções errôneas de liberdade e de justiça, valores que estamos cultuando muito mais em suas relações com a economia de mercado do que com a dignidade da pessoa humana. O Ocidente destruiu a família, transformou a escola em instituição voltada à economia, trata a juventude como mão de obra e a própria ciência se volta, primacialmente, para a produção e o lucro.

A profecia do economista e frade Louis Joseph Lebret – na angustiante pergunta de seu livro: “Suicídio ou sobrevivência do Ocidente?” – surgiu como um brado de alerta. Mas foi ignorada. Hoje, a perspectiva de um mundo sem saída, de problemas sem solução deveriam obrigar-nos a uma revisão mais ampla de todos os conceitos, inclusive os democráticos que, na verdade, se transformaram em direitos de privilégios apenas para alguns. A crise maior do Ocidente é de ordem moral.

O mundo assiste a uma luta de gigantes que não têm conciliação: a voracidade do capitalismo de mercado e a infestação humana do planeta, à beira do colapso diante da explosão populacional. A natureza, quando uma espécie é tomada de infestação e se expande incontroladamente, sabe como vingar-se. E está vingando-se. Bom dia.

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