Trinta anos sem Rípoli

Wikipedia

Wikipedia

Na segunda-feira, 28,  foi o 30º aniversário da morte de Romeu Italo Rípoli,  o memorável presidente do E.C. XV de Novembro. Ele é memorável por ter ficado na memória. Logo, é um memorando que desperta memoração. Memoremo-lo, pois.

Nestes poucos dias que antecedem o Centenário do “Nhô Quim”, é incrível constatar como o velho Rípoli – polêmico, briguento, controvertido – está vivo na memória dos quinzistas. Percebo-o claramente com a verdadeira multidão de jovens pesquisadores interessados em saber, em conhecer, em descobrir e, portanto, em reavivar a história do XV. Nela, o Rípoli está lá. E, com ele, um emaranho de confusões, controvérsias, brilhos, glórias, conquistas. Onde o Rípoli estivesse ou aparecesse, tinha-se uma certeza: não haveria monotonia.

Minhas relações com Romeu Italo Rípoli foram muito, muito próximas. E sempre conturbadas. Tornamo-nos amigos graças ao também inesquecível Caetano, o Caeta, filho dele, ainda quando quase adolescente, namorado da Lúcia. Foi o Caeta – saudade que não acaba – quem nos aproximou, pois Rípoli e eu éramos ferozes adversários políticos, água e óleo. Não nos suportávamos um ao outro. E ele – bem mais velho do que eu – não admitia que alguém bem mais moço tivesse o atrevimento de criticá-lo. Quando, porém, nos conhecemos mais proximamente, criou-se uma amizade de uma solidez plena. Ele se tornou um dos meus conselheiros mais sábios e, até hoje, sigo algumas de suas lições. Uma delas: ter cuidado com gente boazinha. Rípoli falava: “Cuidado com bonzinho, que é o pior de todos. Por trás de um bonzinho, há sempre um grande f.d.p.” E aprendi que ele tinha razão. Quanto mais bonzinho um político parece, mais sem vergonha ele é.

Para o Rípoli, o XV era a entidade mais importante do mundo. Penso, hoje, que, na verdade, ele não via o XV nem mesmo como entidade, mas como pessoa, pessoa amada, num amor obsessivo que o levava ao sentimento de posse. Os acontecimentos a que assisti, os episódios que vi e até convivi na relação Rípoli-XV, tenho certeza de que, se contados, dariam um livro admirável. Um, não; diversos livros. E eu passaria por grande mentiroso, já que quase nenhum leitor acreditaria nas narrativas. Pois o que Rípoli fazia beirava, realmente, o inacreditável. Em todos os sentidos e em todas as dimensões de sua vida.

Diversas vezes escrevi e ainda insisto: Rípoli conseguia ser, ao mesmo tempo, o maior cavalheiro do mundo, um “gentleman” perfeito, e um cafajeste. Como anfitrião, era impecável, ele com dona Belinha. Mas, na rua, ele era capaz de passar na pastelaria do Mário Japonês, comer pastéis lambuzando o rosto e, em seguida, colocar mais dois nos bolsos do paletó, para comer mais tarde. Enjoei de, na minha sala em O Diário, ver o Rípoli tirar um pastel todo oleoso do bolso, comer, deixar as sobras caírem no carpete de minha sala e, em seguida, fazer o cigarrinho de palha e fumar como se  tivesse concluído um banquete de rei.

Tenho uma saudade imensa dele. E do Caeta. E vejo os dois, em algum lugar do infinito, fazendo trapalhadas, alegrando o ambiente, o Caetano tentando impedir que Romeu Italo inventasse uma briga qualquer. A ausência de Romeu Ítalo Rípoli nos festejos do centenário do XV não sei, confesso-o, se é um bem, um mal. Pois ele faria uma bagunça de tal tamanho que ninguém saberia explicar fosse festa ou tumulto. Mas, nas rádios e emissoras de tevês, Rípoli diria, com maior honestidade, que seria “a maior festa do mundo para o melhor clube de futebol do mundo.” E ninguém discordaria dele. Saudade. Bom dia.

5 comentários

  1. Bianca Cunali Ripoli Lara em 30/10/2013 às 11:42

    Fantástico! Bj

  2. Marco Lorenzzo Cunali Ripoli em 30/10/2013 às 11:47

    Caro CECILIO,
    Agradeço imensamente manter viva a memório de meu avô… sem dúvidas um tipo bastante polêmico, porém de grande coração. Aos meus nove anos de idade ele com 66 anos faleceu nos braços de meu pai. Não imaginava o que poderia ser isso! Infelizmente este ano, meu pai (Kaita) com a mesma idade faleceu em meus braço. Obra do destino? Não sei… Apenas sei a imensa falta que sinto deles, principalmente de meu pai, pelo maior convivência!
    Um dia, com certeza, nos enontraremos todos em um lugar diferente, especial, onde a noção de tempo e saúde não seja mais tão imperativa como hoje.
    Meu sincero abraço a você CECILIO. Até!

  3. Edson Diehl Ripoli em 30/10/2013 às 15:26

    Prezado Cecílio, é sempre um prazer ler seus textos sobre meu saudoso pai. Na segunda senti um vazio imenso, saudades dele, apesar de já terem se passado 30 anos. Por sorte tinha arquivado o texto do Caetano de 2003. Eu o enviei à Bianca que o fez chegar a você. Muito obrigado por tê-lo publicado. Um grande abraço!

  4. Antonio M. L. Toledo em 30/10/2013 às 16:50

    Adorei esse seu artigo, Cecílio. Como você, também tenho saudades do Rípoli e também do Caetano, que nos deixou ainda novo. O velho Rípoli acumulava uma série de adjetivos, conforme uma jornalista paulistano disse na época do seu falecimento: idealista, polêmico, passional, folclórico, sensível, ditador, perseverante e intempestivo. Adjetivos esses que refletiam bem a personalidade dele, cuja vida fundia com a própria história do XV. Uma de suas maiores honras foi levar o XV numa viagem à Europa em 1964. E graças a sua grande amizade com Heleno Nunes, então presidente da CBF, levou o XV a disputar pela primeira vez o Campeonato Brasileiro em 1977. Com seu jeitão matuto e seus inseparáveis cigarros de palha, Rípoli orgulhava de dizer que tinha um QI de 135 e bem perto de Enstein, assim como dizia que falava várias línguas. Rípoli morreu sem conseguir realizar seu grande sonho, que foi a “Cidade dos Esportes”. Saudades dele!

  5. Maria Lucia Cunali Ripoli em 30/10/2013 às 18:44

    Ao grande amigo Cecílio, meu agradecimento.

Deixe uma resposta