Um Conselho dos Anciãos
As comemorações do 50º. aniversário de fundação dos cursos acadêmicos da UNIMEP foram, além de emocionantes, surpreendentes. E, para mim, especialmente – que faço parte da primeira turma daqueles então jovens pioneiros – também reveladoras e reconfortantes. O reencontro não foi apenas um momento de saudade, de rememoração, de lembranças. Diante de meus olhos, lá estava um verdadeiro batalhão de homens e mulheres – todos eles setentões – esbanjando conhecimento, sabedoria, disposição energia.
Paradoxalmente, a alegria do reencontro e da renovação afetiva se me transformou, também, em momentos de reflexão e de tristeza. Pois aquele exército revolucionário de líderes – competentes, capazes, experientes, ainda com vitalidade – parece desconhecido perante a sociedade e os poderes públicos. Não resisti a uma certa indignação, como se imaginasse algum idiota jogando fora ou desprezando pérolas e pedras preciosas. Quem despreza preciosidades ou é louco ou incompetente. Desprezando valores tão importantes, tornamo-nos uma sociedade suicida ou incompetente.
É revoltante, penso eu, homens públicos e dirigentes mais jovens não perceberem o que a faminta economia neoliberal percebeu: idosos tornaram-se uma fonte quase inesgotável de consumo. Tornaram-se, na verdade, clientes e consumidores preferenciais. No entanto, a sabedoria e o conhecimento que adquiriram ao longo da vida não interessam ou são ignoradas. Seria porque idosos sabem apreciar mais e melhormente os valores da vida? Seria porque eles não mais são atraídos pela superficialidade das coisas, por modismos, por demagogia barata, recusando-se a se contaminar pela mediocridade?
As antigas civilizações inspiravam-se em seus homens e mulheres idosos, fontes de sabedoria. Era a eles que recorriam em momentos de crise e de angústia. O surgimento de um Senado (“senatus”) como instituição foi para preservar a sabedoria dos mais idosos, sábios da sociedade. “Senatus” era a “assembléia dos velhos”. E lá estavam a memória, a história, a lei, o conhecimento das sociedades. Ainda hoje, em sociedades mais primitivas – como no Mali, por exemplo – os mais idosos são levados ao alto das montanhas para que, contemplando, comuniquem ao povo o desejo dos deuses.
É óbvio que nem todo o idoso é sábio ou tem caráter. Há a famosa advertência de Ruy Barbosa: “Não se deixem enganar pelos cabelos brancos, pois os canalhas também envelhecem.” Isso é verdadeiro, real e, em especial nos meios políticos, a advertência deveria servir como uma luva. No entanto, estou pensando nesse exército de anciãos decentes, dignos, sábios, experientes, disponíveis que estão à margem das decisões da sociedade. Sabedoria escondida não serve para nada.
Ao rever aqueles queridos amigos da primeira turma da ECA – semente da Unimep – incluindo professores, mestres, homens, mulheres, tive a certeza do tesouro intelectual que Piracicaba desperdiça. Políticos sábios e verdadeiramente de boa vontade poderiam, de maneira inédita, dar um primeiro passo em Piracicaba, para criar um Conselho dos Anciãos, informal e moderador, consultivo. Com toda certeza, esses anciãos mostrariam os rumos perdidos de uma cidade que foi modelo e paradigma para tantas outras. Mas é outro vão desejo meu. Pois um conselho de anciãos haveria de, em primeiro lugar, dar sugestões e até mesmo conselhos à classe política. E, então… Bom dia.
Conselho de Anciãos não é apenas um desejo seu, mas meu também. Como já lhe disse inúmeras vezes, Cecílio, é triste viver sem história, sem saber os porquês do que se vive hoje. O intelectuais anciãos deveriam sim ter um espaço para contar e expor todo esse amplo conhecimento. Afinal, frutos maduros devem ser sugados antes de chegar ao chão, não é mesmo?