Um dia de mulher

picture (48)Pensei em escrever sobre o “Dia da Mulher”. Afinal de contas, todo mundo escreve sobre isso. Depois, pensei em não escrever. Pois acho complicado. Coisas de mulher só mulher entende. E acho que “Dia da Mulher”, também. Especialmente se elas próprias, mulheres, começarem a analisar mais seriamente o que seja não apenas o “Dia da Mulher”, mas um dia de mulher. Em meu entender, um dia de mulher é um dia de cão. Haja fôlego.

Minha geração não pode dizer da mulher oprimida. Foi após a II Guerra que as mulheres, muito mais por necessidade do que por desejo, passaram a ocupar espaços antes atribuídos apenas aos homens. Eles estavam nos campos de batalha. Historicamente, sempre foi assim: quando homens guerreiam, mulheres comandam o mundo. Acho que sempre comandaram. Até mesmo no antigo e falso silêncio em que viviam. Mulher é sinônimo de vida e, portanto, sabe como preservá-la. Se homem esbanja a vida, a mulher cultiva-a . Ou cultivava. Agora, não sei mais.

Mas não pretendo aumentar as complicações que já existem. Ainda creio em um homem e uma mulher como o grande resumo da vida. É uma parceria que dá certo. Exceções valem apenas para confirmar a regra. Talvez, se deixássemos de lado tolas e inúteis, às vezes doentias, elucubrações sobre a sexualidade humana, as coisas voltassem a ser mais simples. Assim, ninguém precisaria estar em busca de definir o que seja um homem, o que seja uma mulher. E nenhum escrevinhador teria receios de escrever sobre o “Dia da Mulher”. Pois o receio nada tem a ver com sexualidade, mas com polidez e civilidade.

Ora, sempre houve homens grosseiros e mulheres vulgares. E cavalheiros e damas. Dos primeiros, não há que se falar, gente infeliz ou equivocada. A questão está em damas e cavalheiros que, de repente, se vêem impedidos de sê-lo. Mulheres há que se ofendem quando tratadas com respeito e atenção, com aquilo que, antes, se chamava de atitudes de um cavalheiro para com uma dama. Reagem agredindo. Diante da dama que não existe, o cavalheiro se intimida. E homens também há que se constrangem quando tratados como cavalheiros pela dama que está a seu lado, como se ela fosse irreal. Desaparecendo a civilidade, desaparece tudo. E a razão fica com os bárbaros que se agridem na nova e grande arena: o mercado. Se até um elogio pode ser visto com assédio sexual, como fazer?

Propositalmente, não me referi a direitos humanos, igualdade de direitos. É absurdo discuti-los, pois fazem parte da dignidade humana. Há que se refletir sobre nós mesmos, homens e mulheres, sobre as confusões em que nos metemos, conflitos tolos, disputas estéreis, equívocos cada vez mais trágicos. Um dia de mulher – esse dia de cão, como o vejo – não foi conquista feminina, foi perda. Pois se, certos ou errados, havia papéis femininos – esposa, mãe, amante, namorada, dona do lar – eles ainda continuam e acrescidos de outros: os da profissão, da disputa, da competição, ainda que com salários baixos. E os fins-de-semana da mulher?

Há mulher dizendo-se saudosa do antes. Silencio. Em assunto de mulheres, homem não se mete. Hoje, penso eu, homem sábio deve apenas esperar a poeira baixar. Afinal de contas, se caça e caçador confundiram-se, a colheita ficou abundante. Se não há mais um tempo de amar, o homem apenas precisa avaliar a hora de investir e a de cair fora. Pois, se não é mais preciso sequer conquistar, também não há porque dizer adeus. Nem para devolver o Neruda que alguém deu. Vai-se embora e fim. Bom dia.

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