Um rei brasileiro

picture (46)Numa revista antiga, de 2004, revi uma reportagem do casamento do príncipe herdeiro espanhol, Felipe, com a plebéia Letizia. Voltei a sentir inveja. Pois me incendeio-me, ainda hoje, do sonho de ver restabelecida a refinada monarquia brasileira, com reis e rainhas de verdade, príncipes e princesas, condes e duques, barões e marqueses – multidão de gente ociosa e inútil que, no entanto, enfeitiçaria mais nossa gente do que novelas de televisão. Ou não seria mais bonito e saudável, às moças do povo, sonhar com príncipes encantados do que com prostituição de luxo em passarelas e capas de revistas? Precisamos, penso eu, do retorno de um Brasil monárquico de verdade. Pois é tolice continuarmos com esse reinado de mentirinha. Reinado é, mas sem realeza alguma. E os membros da Corte não têm majestade.

Já há quem chame o Lula de reizinho. Mas isso pode ser perigoso, pois – sendo baixinho e gordinho – a imagem pode remeter àquela figura de quadrinhos divertidíssima, o adorável “Reizinho”, lembram-se? Fernando Henrique teve – ainda tem – a empáfia de rei. Mas rei, rei de verdade, não fica falando besteiras por aí. Rei fala pouco. Quando fala, é para dizer muito. Fernando Henrique fala muito e não diz nada. Lula faz, do Brasil, uma partida de futebol. Logo, não fala: narra.

Eis, pois, a nossa sina: falta-lhes majestade, a nossos reis. E majestade, quando não vem do berço, aprende-se no colégio. Pois há, nas monarquias, escolas para reis, rainhas, futuros barões e baronesas. Letizia, a princesa espanhola, era âncora de televisão, precisou deixar suas atividades para – durante alguns anos – aprender segredos, etiqueta, “finesses”, refinamentos da Corte. E convenhamos: a corte espanhola é uma das mais democráticas que existem, uma monarquia parlamentar com ares republicanos.

Nas monarquias, o rei reina e não governa. No Brasil, o presidente pensa ser rei. E nem reina e nem governa. Mas acredita reinar e governar. Na América Latina, o destino das repúblicas é o de acalentar nostalgias. O sonho de Bolívar – uma só pátria, bolivariana – foi nostalgia de Felipe, o Grande, um império imenso só que sob as rédeas de um caudilho. Imagine se Hugo Chávez tem alguma majestade! Do império brasileiro, sobrou o Nordeste, esse vasto reino de vice-reis com suas capitanias hereditárias. E ditadores militares, foram o quê – em todo a América Latina – senão tiranos com pretensão a monarcas? E Sarney, que rei, hein?

Republiquetas são tristes arremedos monárquicos. Mesmo nas grandes festas, a pobreza de estilo deprime. Que rei de verdade come buchada de bode, churrascada com rabo-de-galo? Ora, tenho inveja de casamentos e festas reais. Pois enjoei de Rei Momo com sua cara de Baco. E de Rainha da Sucata, da Zona e do Rei do Bingo, do Jogo do Bicho, da Soja, do Rei Roberto Carlos, do Rei Pelé. Pobre gosta de luxo.

Na Espanha, choveu e fez sol: casamento de espanhol. E o mundo inteiro se encantou com a nova versão do príncipe com a plebéia, Cinderela rediviva. No Brasil, o casório da filha de um vice-rei do Nordeste só reuniu pé-de-chinelo: deputado, senador, vereador. Para Felipe e Letizia, a realeza européia, o “froufrou” das cortes, salamaleques, beija-mãos.

Minha tristeza aumenta ao ver a revista “Caras”: as tais celebridades de sempre, o mesmo mulherio de sempre, gente pelada e de silicone. O reino brasileiro é vulgar. Continuo votando em Joãozinho Orleans e Bragança para Rei do Brasil, morando lá em Petrópolis, fazendo cachaça em Paraty, reunindo gente bonita e elegante nos antigos palácios imperiais. Entre ele e a corte de Sarney, Collor e Renan Calheiros, prefiro os descendentes de D.Pedro II. Bom dia.

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