Viagem ao centro da Terra

Centro da TerraO pensamento remeteu-se, de imediato, àquele 20 de julho de 1969 quando os três astronautas estadunidenses pousaram na Lua. Quando vi, no Chile, a sonda penetrar no chão para ir em busca dos 33 mineiros soterrados, foi como se toda a ficção do passado, que previa uma “viagem ao centro da Terra”, estivesse ocorrendo. Júlio Verne está vivo. O homem não apenas vai em busca da conquista dos espaços mas, com sua ciência, já consegue chegar às profundezas da Terra, lá onde os antigos diziam ser o Hades, que governa o inferno.

A ciência é moralmente neutra, podendo servir tanto para o bem como para o mal. A mesma descoberta que permitiu conquistas humanas extraordinárias foi responsável pela invenção também da bomba atômica. E o mesmo homem capaz de bombardear, de aniquilar e matar milhões de pessoas, que é capaz de deflagrar querer é, também, o homem que revela rasgos comovedores de solidariedade. No Chile, há cerca de 70 dias, 33 homens viveram soterrados, resistindo a partir da esperança que alimentaram em relação a outros homens, desconhecidos, anônimos, que, no mundo todo, deram algo de si para resgatá-los.

Por isso, quando a primeira sonda desceu e retornou trazendo, em seu bojo, o primeiro mineiro salvo daquelas trevas, o que vimos foi um momento grandioso de humanidade, o médico vencendo o monstro, o anjo derrotando o demônio. Houve júbilo no mundo, na consciência estranha mas verdadeira de intuirmos – mesmo não o querendo admitir – ser parte da mesma família humana. Parece ser nas grandes tragédias, nos grandes desastres e, também, nos dramas menores que surge a dimensão divina do humano. Por que um bombeiro arrisca a sua própria vida para salvar pessoas vitimadas pelo fogo ou pela água? Por que um homem é capaz de atirar-se diante de um automóvel para salvar uma criança desconhecida ameaçada de atropelamento? E por que, de outro lado, pessoas matam outras pessoas com requintes de crueldade, povos destroem povos com frieza e indiferença assustadoras? Dr. Jeckyl e Mr. Hyde continuam habitando em cada um de nós, acho que até o final dos tempos.

O fato é que o resgate dos mineiros chilenos – 16 dos 33, até o momento em que escrevo estas linhas – engrandece a raça humana e mostra a dimensão digna da ciência, a serviço da vida, do bem e do bom. É um momento admirável que fica marcado nas páginas da história como outro símbolo do coração humano solidário. Bom dia.

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