“In Extremis” (30) – Nova missão: humanizar robôs

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(imagem: reprodução Pixabay)

A humanidade chegou, novamente, a um nível espantoso de desenvolvimento científico e tecnológico. Estes, aliás, têm sido a saga, o desafio, a conquista de todas as gerações, desde que o homem encontrou o fogo. A “Árvore do Conhecimento” fascina, arrebata, atiçando o ser humano a, mesmo reconhecendo-se como criatura, ser, também, criador. Mas “à imagem e semelhança de si próprio”. Ser deus continua sendo, pois, a suprema ambição humana.

Desde o surgimento do primeiro núcleo humano, o ópio do poder – ou a necessidade de proteção, de mútuo socorro – embriagou o homem. A malta de hominídeos precisou de um chefe ou foi, por ele, subjugada. Os índios da tribo tiveram um cacique a governá-los. O tirano dominou escravos; o rei submeteu os súditos; o soberano controlou os servos. O empregador subordina o empregado. A hierarquia impõe-se sobre a anarquia. E a sociedade humana tenta sobreviver.

Quando a história parece não ter solução eis que pode aparecer um artifício que a torne plausível. É o surgimento do “Deus ex machina”, o deus nascido da máquina. E eis aí, entre nós – numa era de intensa perplexidade mundial – o homem criando a criatura que acredita perfeita: o robô. Ele é o serviçal incomparável. Pode ser programado para tudo, com a vantagem de não exigir direitos, de não ter sentimentos nem opinião. A sua razão é a razão de seu programador. Tornou-se uma criação tão fascinante que há, em número cada vez maior, pessoas que fazem amor com robôs preparados para amar incondicionalmente. Eis, enfim, o ideal do prazer: o servilismo incondicional. Servilismo, inclusive, para as taras humanas.

Ocorre, porém, que o inesperado, o imprevisto e o imprevisível sempre acontecem, desafiando a soberba, a pretensão, a ditadura cultural de cada tempo. Hei de insistir, em me havendo forças, na imortal frase de Dostoievsky: “A beleza salvará o mundo.” E é o que tem acontecido diante do infindável desfile de horrores, de ódios, de loucuras. Aliás, há alguns anos, o então Papa João Paulo II – na luminosa “Carta aos Artistas” – amparou-se na mesma frase e, enaltecendo o valor da beleza, propôs: “Sejam artífices de sua própria vida.”

A esplêndida realidade, pois, está em ser, a beleza, o elemento salvífico de toda sociedade humana, sempre ameaçada  de destruição. Quem encontra a beleza – naquilo que vê, no que se ouve, no que sente – recusa-se ao feio. Acontece sempre. Também agora. Pois, no caótico universo da internet, tem circulado expressiva mensagem de jovens, numa amargamente irônica “evolução da música de 1950 a 2019”. É como se a música estivesse morta. São berros, barulho, danças tribais, sons atordoantes a que dão o nome de música, o mesmo criado pelos gregos – “mousa” – em referência às musas e à sua atividade artística. Euterpe e Aede pedem socorro ao Papai Zeus e à Mamãe Mnemósina.

O mundo e a vida, porém, são cíclicos. Dão voltas, sempre recomeçando, sempre em oposição: dia e noite, frio e quente, primavera e inverno, dor e amor, vida e morte. Entendemo-lo pela sabedoria milenar: “Nada há de novo sob o Sol”. Pois, se o feio e o ruim contagiam, o contágio do belo e do bom é mais frutuoso. Não é isso mesmo que já estamos sentindo no ar, quando o povo – como numa profecia coletiva – já sepulta um ano que sequer terminou, saudando o que se anuncia com a música de uma inexplicada esperança? Novamente, a beleza chama, evoca, contagia. Basta, como sempre, ter ouvidos de ouvir, olhos de ver.

Há uma nova missão à nossa espera: humanizar os robôs.

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