…e, então, Ele surgiu.

borboleta-flor

Foto: Google

E ele pensou estar esperando à toa, inutilmente.  Os seus não eram olhos de ver.  E os ouvidos não ouviam. O seu  Deus não retornara como pessoa humana que, também, costumava ser. Mas por quê, se a rosa amarela surgira no  jardim e era quando ela o avisava da chegada Dele, do Deus feito homem? Sentiu-se infeliz, como que perdido, qual menino mimado e impotente. Pensou ser injusta aquela ausência, pois não fora assim o combinado. Por que aquele Deus deixaria de visitá-lo se ele cumprira a sua parte do acordo e tentara ser bom e gentil? Era sua convicção: ele merecia Deus consigo, tinha direito de ser amigo d´Ele. Incondicionalmente. Sem nenhum esforço. Sem  qualquer reciprocidade.

Desde quando, pela primeira vez,  se encontraram, ele falou para aquele Deus: “Não entendo. Você me deu o livre arbítrio e, ao mesmo tempo, me dá ordens para eu obedecer? ?. Como você exige que eu o ame acima de todas as coisas se eu amo muito mais a meus filhos do que a você? E como amar o meu próximo como a mim mesmo? E como perdoar as ofensas do outro se ele não pedir perdão? Combinei – lembra-se? – que, em vez de amar, me bastaria  respeitar. Respeitar o outro e tudo estaria em paz? Não foi assim?

Viveu  a decepção que os limites da razão impunham. Ora, aquilo que ele não sabia ele não sabia,   não é isso? Sem, pois, nada entender, ficou à deriva na tarde agoniada. Um homem solto numa tábua ora de mar encapelado ora de águas mansas onduladas. Acima, o céu, empalidecendo no lusco-fusco; abaixo, as profundezas; aos lados, praias distantes e desconhecidas. Um homem ao leu,  para onde ir?

Então, começou a perceber. Primeiro, ao sentir, ao cheirar, ao apalpar. Não lhe importava  alguém não  o entendesse, pois eram suas, apenas suas as recordações.  Conhecera  fiapos de Deus no amor de sua mulher: a ternura, o carinho, o desejo, um afago, o sorriso, mãos nas mãos, os seios acolhendo-lhe a cansada cabeça de guerreiro equivocado. Sua mulher – que se fora tão cedo! ela e o amor que os unira eram a presença visível de Deus.

Entendera-o apenas depois.  Mas tão tarde, tão tarde…  O amor expirava um primeiro sopro de vida. E ele pareceu inspirá-lo naquele momento.

Então, passou a ouvir. Já ao alvorecer. Passarinhos cantavam, saguis chiavam, as folhas, nas árvores, assanhavam-se. E as borboletas, voando. E Bach levando-o ao divino no despertar daquela manhã. Foi quando, então, no coração ele ouviu:

– Estou aqui, filho. Fiz-me borboleta para beijar a flor. E me tornei colibri para pousar em cada pétala e sugar a doçura de todas elas. Você não percebeu o sabiá disputando o naco de banana com o sagui? Pois é. Interferi naquela competição. Pois o sabiá precisava menos do mais que o sagui queria. É assim. E você não viu.  Dá para entender?

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