“In Extremis” (101) – “No jardim de um mosteiro”

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(imagem de Pexels, por Pixabay)

“In extremis”, convenço-me, enfim, de a explicação estar no indefinível imenso amor de meus pais, um pelo outro. Não há como descrevê-lo. Pelo menos, nós, filhos, nunca conseguimos traduzi-lo em palavras. Conhecemo-lo, porém. Vivenciamo-lo. Veio-me, disso, a inabalável certeza de ser, a Vida,  um presente, bênção e dom imperdíveis. Logo, tesouro a ser preservado até o último suspiro.

Nunca, por isso, entendi o viver como penitência, vale de lágrimas, passagem de um para outro mundo. Não, nunca aceitei ser,  a Vida,  um estágio após o qual eu seria julgado e, então, destinado a céu, inferno ou purgatório. Nascer foi meu presente. Cabe a mim decidir o que fazer com ele.

Céus, infernos, purgatórios – vivíamo-los na casa de meus pais, na aventura do cotidiano. Havia o milagre do amor em todas as ocasiões: nas mortes, na pobreza que chegou, nas doenças, na penúria, na falta de pão. Quanto mais grave a carência, mais os meus pais criavam mágicas de amor. Se, num almoço, houvesse apenas arroz com mortadela, minha mãe transformava-os num banquete. Aquele tão pouco, tornava-se, então, abundância de festa.

Nasci, engatinhei, dei os primeiros passinhos de bebê, entrei na infância, na adolescência – ao som de Chopin, Beethoven, Mozart, Bach, Brahms, dos grandes mestres. De músicas, uma delas, no entanto, de tal forma penetrou-me n´alma que me despertou encantamentos: “No jardim de um mosteiro”. O autor: Ketelby. Conheci o divino no humano. Era possível, pois, reencontrar Paraíso Perdido.

Há, porém,  um segredo: o Paraíso é construção humana pessoal. Nunca, pois, arquitetura global. O Paraíso é tribal. Eu, com os meus próximos, com quem tenho proximidade, família, amigos. Na história da humanidade, cada um há que tecer a sua história pessoal. E, no somatório coletivo, preservar a identidade própria. Pertencer às instituições, mas não ser delas.

Hoje, “in extremis”, esforço-me, ainda, para reciclar-me. Há cerca de 40 anos, ao vender meu jornal, prometi-me ser jardineiro. Mas sem menosprezar toda uma experiência de mundo e de vida que possa contribuir com a comunidade. Preparei-me, cuidadosamente, construindo o meu canteiro espiritual e o jardim físico. Busco, cada vez mais, cultivar belezas. E quero engravidar-me espiritualmente delas. No entanto – agoniado por misérias de um Brasil levado ao caos –  sou chamado, ainda como jornalista,  a ir em busca de reações contra saúva, parasitas. Pois – além de plantar, semear – é preciso podar, varrer. Serei tolo se, reencontrando o Paraíso, voltar a perdê-lo. Jardineiro cuida.

Permito, agora, confidenciar a meu eventual leitor. Mesmo no meu jardim de mosteiro, tenho que participar. “Nenhum homem é uma ilha”. No universo digital, é meu dever – como jornalista e escritor – marchar com a História. Durante 50 anos, mantive uma coluna diária em jornais impressos: o Bom Dia. Chegou a hora de, agora,  fazê-lo digitalmente. Um simples conversar comigo mesmo e com quem me der a honra de perceber-me a seu lado.

A partir de amanhã, 3 de março, lançarei o meu blog no universo da internet. Pretendo seja o diário de um jornalista idoso que, na encruzilhada, está  à disposição para informar sobre  opções de caminhos. Informar, jamais orientar. O peregrino idoso conhece os que devem ser evitados, por inúteis. E os – ainda que poucos – mais generosos para ser percorridos. Sugerir, apenas sugerir. É, ainda, meu dever. Tentarei fazê-lo. Do meu jardim e no meu blog: www.cecilio.blog.br. Fico na encruzilhada, à disposição.

Para acompanhar outras crônicas desta série, acesse a TAG “In Extremis”.

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