“In Extremis” (150) – Insulto “à Maria Antonieta”

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Engenho Central. (imagem: site Refugios do interior)

Quando se lhe cobram informações, o “soi-disant” secretário da também “soi-disant” Secretaria de Cultura costumava dizer “estar em missão”. Ou seja: apenas cumpria ordens. Nunca se revelou, porém, se eram ordens do preboste ou do ex-vociferante vereador do revólver que se arroga ser o comandante daquele setor. De qualquer maneira, parece que o já celebrado General Pazuello fez mesmo escola: “Um manda, outro obedece.” Doloroso e triste.

O fato ineludível, no entanto, é a responsabilidade ser do Prefeito Municipal, o sr. Luciano Almeida. O absurdo desejo de transferir a histórica Pinacoteca Municipal para o Engenho Central é revelador de incapacidade de avaliação. E de desrespeito aos sacrifícios, conquistas e realizações do passado. O cumpridor de ordens do Prefeito parece tomado de um interminável surto de ressentimento. E, revelando-se interminável, deixa de ser surto para se tornar enfermidade real. Ora, qual a justificativa para essa aventura sem sentido que causa indignação aos piracicabanos? Por que tais capricho e obsessão, tal infantilismo administrativo num momento de crises agudas e dolorosas?

No ano passado, revelou-se que se empenhara uma verba de 800 mil reais para reformas num dos barracões do Engenho. Anote-se: eles querem reformar um barracão, gastar verbas que seriam necessárias em outras áreas – apenas para substituir o que já existe há 50 anos, a Pinacoteca, construída com detalhes e cuidados especiais. Por que, para quê, além de parecer capricho de criança rica e mimada que “quer porque quer”? E com o dinheiro da população que vê multidões de desempregados, de desabrigados, de enfermos, de famintos, de sofredores!

Mas a cínica pretensão aumenta o apetite dos indiferentes brincalhões. Agora, noticia-se que – para a estúpida mudança da Pinacoteca – exigem-se R$ 1,23 milhão! A insensibilidade da Prefeitura vai para além de teimosia de menino rico. Torna-se provocação ao bom senso e inteligência do povo e – acima de tudo – um insulto, zombaria em relação à extrema gravidade do momento que vivemos. Para que isso, por que tal desprezo aos angustiantes problemas vividos em Piracicaba?

Cada povo, em cada época, parece, realmente, ter a Maria Antonieta que merece? Lembremo-nos de que a explosão dos miseráveis de França se deu pelos acintes e desprezos da realeza. A história passou a contar – tenha ocorrido ou não – que, ao ser alertada quanto à fome do povo, à falta de pão, teria dito: “Se não têm pão, comam brioches”. Foi a chama para explodir a monarquia irresponsável.

Ora, nada se pode cobrar do “soi-disant” secretário, pois ele insiste em dizer-se, apenas, um cumpridor de ordens. Cobremos, pois, do atual Prefeito, alertando-o para a perigosa provocação que faz aos piracicabanos, a partir de sua insensibilidade e de seus caprichos. O sr. Luciano está próximo de se tornar a Maria Antonieta desse governo pretensiosamente monárquico que se diverte em Piracicaba. Assistimos a uma pecaminosa indiferença diante do sofrimento de famílias assoladas pelo desemprego, pelo abandono, pela fome. “Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?” – até quando, prefeito e secretário?

Que esses moços se lembrem da advertência do poeta Belmiro Braga: “Água morro abaixo, fogo morro acima, quando o povo quer nem Deus desanima….” Indignado por tanto insulto, quem haverá de controlar um povo já machucado pela miséria, desabrigados vivendo ao Sol, à chuva, ao frio?  A explosão popular está às nossas portas. O insulto “à Maria Antonieta” costuma provocar fúria. Uma simples questão de tempo.

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