In Extremis (41) – E, então, apenas um vírus…

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(Imagem de Pete Linforth, por Pixabay)

A vida emite sinais, acredite-se ou não nisso. E sempre foram exatamente os sinais dos tempos que nortearam a humanidade para revisões e recomposições em sua caminhada. Alguns acreditam tratar-se de superstições. Outros, de bruxaria. No entanto, há uma realidade inescapável: aquilo que é, é; aquilo que não é, não é. A pandemia é.

Trata-se, como sempre, da milenar lição: ter olhos de ver, ter ouvidos de ouvir. No resumo de tudo, é um apelo à intuição, esse dom humano que está acima e além da razão e do conhecimento. Ora, quem já não vinha intuindo que algo errado estava acontecendo no mundo? A intuição avisa, mas não explica. Essa confusão toda, esse caos, a desordem – quem não os percebeu mesmo desconhecendo a resposta ou a solução? A arte já nos ensinara desde os primórdios: não há harmonia na desordem.

Estamos, penso eu, diante de uma admirável possibilidade de poder olhar para trás. E mantermo-nos, então, atentos e despertos às lições aprendidas. Na realidade, um aprendizado mais com erros e equívocos do que com acertos. A alegria vivifica; a dor ensina. Tragédias acontecidas podem não prevenir as próximas, mas deixam lições. A pandemia atual é um sinal dos tempos. E, portanto, uma especial oportunidade para pensar, refletir. Agora uma reflexão universal: o que fizemos?

Medrosos, oportunistas, profetas de fancaria já dizem de castigo de Deus. É a mais fácil das respostas, vício que nos isenta de responsabilidades. Ora, Deus nada tem a ver com isso. Ele repousa desde o sétimo dia da criação. Como arquiteto do belo ele idealizou maravilhas, criando-as. No sexto dia, quando tudo pronto, Ele inventou o homem. É o oitavo dia, que nos pertence e pelo qual somos responsáveis. Se continuarmos acreditando sejamos “os reis, os senhores da criação”, seremos apenas idiotas e tiranos. Mas o vírus nos instiga a compreender sermos participantes e condôminos de um bem comum.

Pensadores da Antiguidade entendiam que, quando cai a folha de uma árvore, as estrelas reagem. É a admirável percepção de que tudo o que está em cima está, também, embaixo. Se raios de Sol e de Lua incidem sobre a Terra, influenciando-a, criando estações, mudando climas, alterando marés, determinando épocas de flores, de frutos, de descanso – como imaginar o ser humano escapando a tudo isso?

Apesar das dores, medos, sustos estamos diante de uma oportunidade raríssima de buscarmos outros caminhos. Mais humildes, mais solidários, mais verdadeiramente humanos. E é o que começa a acontecer, nesse recolhimento universal do homem para o seu casulo, o retorno à sua caverna. Não sei se estamos sendo solidários, mas começamos a nos unir pelo medo, pelo temor, pelo desconhecimento do que virá. Fomos obrigados a parar. Com a pergunta assustada: se um simples vírus nos derrota, quem somos?

O sétimo dia foi o dia em que se completou a criação. Por isso, o sete é considerado o número divino, perfeito: sete céus, sete sacramentos, sete braços do candelabro, sete dias da semana, sete maravilhas do mundo. O 7 simboliza o testamento antigo. O 8, do nosso oitavo dia, representa o novo, o da construção. Foi, pois, o que fizemos à nossa maneira humana: criando, conquistando a Lua, indo a Marte, destruindo florestas, semeando ódios, fazendo guerras. Do oitavo dia, estamos fazendo o dia do super-homem, o que se iguala a Deus.

Mas eis que um vírus desmancha planos econômicos, mostra a ficção das bolsas de valores, causa pânico. E convida o super-homem a redescobrir: “Tu és pó.” Poeira de estrelas.

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