“In Extremis” (80) – Não basta um outro e novo prefeito

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(imagem de Gerd Altmann, por Pixabay)

Em toda essa história, admito ser, eu, o tolo. Ter pensado e proposto – antes da eleição – um grande acordo partidário para tentar, pelo menos, refletir sobre o caos que nos espera – convenhamos, lá, isso foi de um irrealismo sem tamanho. Mas não tem importância, pois a Utopia – de Thomaz Morus – é o testemunho do irrealismo. E, no entanto, ela persiste, ainda que como sonho. Propor um pacto coletivo diante do desafio que nos espera – não seria isso um rascunho de Utopia? Ou teria sido a esperança num exemplo que – em outro momento crítico da humanidade – uniu os espanhóis no Pacto de Moncloa?

O fato é que Piracicaba tem um novo e outro prefeito, o sr. Luciano Almeida. Pergunto-me, pergunto-vos, na esteira de Drummond: “E, agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou…” E, agora, classe política, empresariado, clubes de serviço, entidades de classe? E, agora, senhor novo prefeito, senhores vereadores eleitos e reeleitos?

Talvez – ou certamente? – o idiota e despreparado seja eu próprio, este que vos escreve. Pois não consigo enxergar qual ou quais caminhos seguir nessa escuridão da “noite que esfriou”. Quais das nossas instituições permanecem suficientemente sólidas para enfrentar e equacionar desafios ainda não definidos? Nossas casas legislativas estão estruturadas para se reinventarem, para legislar sobre o que ainda não se conhece? E os executivos políticos, vão administrar o quê, como, para quê, para quem? As prioridades mudaram, mudarão ainda mais e a maioria da população já se aproxima de tornar-se apenas multidão. Sem emprego, sem pão, sem saúde, sem segurança. E – perigosamente – à beira da desesperança.

Fosse Barjas Negri o eleito, seja agora Luciano de Almeida, o prefeito desses novos tempos há que admitir-se homem incapaz para, sozinho, liderar um processo que há de ser absolutamente revolucionário. E que, por revolução, se entenda a transformação radical. Ou haverá – a não ser os acomodados em seus castelos de poder – quem acredite possamos continuar vivendo de paliativos, de meias-medidas, de remendos sociais? Fazer pontes, abrir avenidas, construir obras de engenharia – há espaço, ainda, para isso como prioridade administrativa? Ora, a fome, o desabrigo, a enfermidade, o desemprego não são problemas unicamente das esferas estadual ou nacional. Estão no município, em nosso quarteirão, no vizinho. Esperar por medidas federais para ativar a economia é aguardar socorro de onde não virá. O novo mundo – esse da pós-pandemia – exige medidas de urgência, de pronto-socorro.

Não me vejo como Cassandra e nem dou por mágico com soluções. E, por não saber como haveremos de sair desse pântano – e não acreditando, apenas, que outro e novo prefeito possa fazê-lo individualmente – arrisco-me a  uma simples sugestão. Que Executivo e Legislativo arquitetem, com rapidez, um Gabinete de Inteligência – formado por especialistas nas mais diversas áreas – para estudar o ainda não estudado, para tentar entender o ainda não entendido. E que – diante de alguma luz, pequena que seja – venha a sugerir atalhos para conseguirmos enxergar.

Todos nós – especialmente, porém, os políticos recém-eleitos – estamos obrigados a um profundo exercício de humildade. E, então, reconhecer não estarmos preparados para os desafios que já, aí, estão. Vitória nas urnas sempre tem uma causa. Seria altamente saudável se o prefeito eleito admitisse que muitos de seus votos, talvez, não tenham sido a favor, mas contra Barjas Negri. E isso significa conflitos pessoais, idiossincrasias que, em nada, contemplam o povo.

A primeira grande obra do prefeito eleito haveria que ser socrática: “Eu sei que nada sei.” Caso contrário…

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