“In Extremis” (88) – O amargo fruto do ressentimento

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(imagem: Element5 Digital, no Pexels)

Recebi um “zap” perturbador. De repente, pareceu-me o doce que me retiraram da boca infantil. E compreendi não ter sido, o doce, imaginação, fantasia, sonho meus. Ele existira. E fora bom.

Alguém recuperara e lançara aos ares da internet aquilo que empolgara o Brasil, que vivificara esperanças: o “Lula Lá”. E não me digam os ressentidos, os odientos e odiosos que não houve, no país, um vendaval de esperanças, um entusiasmo incendiário. Ora, tudo o que penso e escrevo está registrado e pode ser conferido. São erros, acertos, equívocos, esperanças e desesperanças, otimismos e desânimo, desistências e recomeços – 65 anos, enfim, de estar por aqui. Acertei e errei. Acreditei e me equivoquei. Mas não me omiti.

Explico-me, nessa fase da vida em que, escrevendo, penso ser necessário fazer preâmbulos e parênteses. Pois vi Lula surgir como líder metalúrgico incrivelmente corajoso numa época de censuras, violências ditatoriais. Lembrei-me, à época, do filme italiano “Mimi, o metalúrgico”, de Lina Wertmüller. Seria Lula, o nosso metalúrgico, tão grotesco quanto o de Lina? Não, não era, não o foi. Admirei aquele Lula, líder operário. Mas, por muito tempo, recusei-me a aceitá-lo como líder político.

Na realidade, vivi, em relação a Lula, aquilo que se chama “congelamento de avaliação”. Sobre ele, a avaliação foi a de um operário eficiente, mas sem preparo político. Logo, um preconceito também. E achei absurda toda a empolgação que se fazia em relação a ele. Lembro-me de a revista Realidade – então, uma das mais importantes da época – tê-lo anunciado como líder “primus inter pares”. E uma pesquisa junto a mulheres mostrou que, para a maioria delas, Lula era o homem mais sexy do Brasil. Criara-se um mito, diferentemente do que dizem de um outro que está por aí, alguém simplesmente ridículo, próximo a um jogral.

Votei em Brizola, em Collor, em Fernando Henrique sempre para não votar em Lula. Finalmente, admiti Lula ser, realmente, uma liderança especial. E não me arrependi. Senti-me um brasileiro orgulhoso ao ver as mais poderosas lideranças mundiais reconhecerem a importância daqueles dois governos que encantaram todas as nações. E estive, portanto, entre os 87% da população que aplaudiram a despedida de Lula da governança do País. Depois…

Depois…  Aqui entre nós, sincera e honestamente entre nós: será que o impeachment de Dilma – justificado por “pedaladas fiscais” – não se torna vergonhoso diante da leniência, da covardia do que está acontecendo? Em que gavetas se escondem as gravíssimas acusações contra Temer, Aécio, José Serra “et caterva”? Até quando, esse Jair e “famiglia”? Até quando o falso combate à corrupção será bandeira para seduzir eleitores? Até quando fingiremos haver purismo na política, cuja moral assenta-se sobre o resultado e não sobre a consciência individual?

Tento escrever sobre ressentimento. O Brasil que aí está – mergulhado na mediocridade, apequenado diante do mundo – é fruto do ressentimento do povo. E o ressentido nada mais é senão aquele que, vendo-se impotente, alimenta ódio contra aquilo que não conseguiu ser ou contra o que não pode ter. O ressentimento cria realidades negativas, nascidas de um espírito sombrio e destruidor. Dizemos: se não tive para mim, ninguém terá; se não consegui, ninguém conseguirá. Em resumo: que tudo vá para o diabo! E o diabo gerou um falso presidente da República.

Ressentido, venho recusando, há anos, a votar. Logo, sou, também, responsável pelos frutos amargos que estamos vivendo. “Mea culpa”.

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