“In Extremis” (99) – Paulo Egydio e outros notáveis

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Ex-governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins faleceu em fevereiro/2021, aos 92 anos. (foto: Júlia Moraes / Folhapress – reprodução Google)

Cálidos e agridoces sentimentos foi o que, também, me trouxe a notícia da morte do ex-governador Paulo Egydio Martins. E mais nítida, ainda, se me tornou a convicção de ser, a minha geração, altamente privilegiada diante da História. E que eu – simples jornalista interiorano – sou um dos abençoados por tais privilégios da Vida. Vi-me, então, mais outra vez – das tantas em que o faço – rendendo graças. Como foi possível tudo aquilo? E como pôde acontecer a fusão de Primavera e Inverno, de Anos Dourados com os de Chumbo?

Conheci um suave misto por assim dizer de nostalgia, de saudade, algo quase sabendo a melancolia. E, então, conseguir justificar-me por minha atual indignação, por meus inconformismo e lamentações. Pois, tendo conhecido o que conheci – e tendo vivido em uma constelação de grandes personalidades – não me é sequer lícito aceitar o dilúvio das tantas mediocridades que nos castigam. Foram, sim, tempos admiráveis. Por isso, é-me quase impossível aceitar tenham gerado tão péssimos frutos.

Conheci Paulo Egydio Martins, então Governador de São Paulo, numa reunião política aqui em Piracicaba. Ele me notou quando fiz um protesto a um de seus assessores, que buscava impor diretrizes e nomes de candidaturas a Piracicaba. “Aqui, não. Em nossa terra, vocês não impõem ordens!” Foi uma confusão. Mas Paulo Egydio interrompeu a quase briga, falando: “O moço tem razão. Aqui, são os piracicabanos que decidem.” Levantou-se de sua cadeira e me cumprimentou. Nasceu, ali, uma proximidade que me honrou por toda a vida.

Como haverá, alguém – tendo conhecido a grandeza – de conformar-se com pequenezes? Como aceitar ser governado por anões quando se viveu a obra de gigantes? Os deuses criaram uma época em que o ideal de um novo mundo, num novo tempo, surgiu com pessoas especiais. Nas artes, nos esportes, na política, no cotidiano. Pelé, Maria Esther, Wlamir, Éder Jofre; Roberto Carlos, Chico, Caetano, Maria Bethânia, Tom, Vinicius; Juscelino, Carvalho Pinto, Franco Montoro… Mas, também, Adhemar e Jânio, o joio junto ao trigo.

Carvalho Pinto seduziu minha geração. Como esquecer-me de, com sua notoriedade, ter, ele, prestigiado, em São Paulo, o lançamento de meu primeiro livro, “Um Eunuco para Ester”?  E a doce vaidade de recordar Olavo Setúbal, Laudo Natel participando da noite de autógrafos, também em São Paulo, de “Bagaços da Cana”, meu segundo trabalho literário? Delfim Neto, acolhendo-me em seu apartamento – como que um museu de arte – na Peixoto Gomide. Ou no escritório da Nestor Pestana. O então jovem deputado estadual, Franco Montoro, hospedando-se em meu apartamento de recém-casado. E Paulo Egydio, o jardim da sua casa no Morumbi, o escritório abaixo do solo com janelas abrindo-se para um zoológico particular, corças passeando ao lado de animaizinhos encantadores? E dona Lila, sua doce esposa, com a “finesse” da família Byington?

Não, não dá. É uma questão de alma. A minha repudia a mediocridade institucional. Conheci Juscelino, tive a honra de entrevistá-lo. Aos meus 18 anos, na boleia de um caminhão, fui àquela Brasília em construção para viver minha aventura de candango. E, com minhas mãos, coloquei alguns tijolos na parede do que se tornou o Hotel Nacional. Quis participar com minhas esperanças e deixei cair algumas gotas de suor naquele chão. Era onde – na visão de Dom Bosco – haveria de “correr o leite e o mel”. Jamais imaginamos viesse a abrigar destruidores de sonhos, sabotadores de esperanças. Não, não dá. A alma sangra.

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