Mulher

Estamos – Arnaldo Branco Filho, Patrícia Fuzeti Elias (filha querida) e eu – em fase conclusiva  do livro “Mulheres, semeadoras de cultura.” No mês de maio, o ICEN e editora B2 devem fazer o primeiro lançamento aqui em Piracicaba.

Não é, no entanto, nesta croniqueta,  sobre o livro que pretendo escrever.  Gostamos muito do que fizemos – embora a eterna insatisfação, “poderia ser muito melhor” – mas é o eventual leitor que irá julgá-lo.  Em cada um de nós, autores, esse livro deixou marcas profundas. Digo que irreversíveis, um impacto no dia-a-dia da escrita, da elaboração, das descobertas. Não posso dizer de meus companheiros desta jornada estranha, surpreendente e,  admito, até mesmo que mágica. Mesmo o que representou para mim, o que aconteceu em mim e que ainda acontece – é-me difícil dizê-lo.

À proposta  de escrever tal livro, falei, a meus companheiros, que seria pretensão muito grande e uma ousadia sem nome. Escrever sobre a mulher, esse mistério indecifrável, como seria isso possível? Muitas vezes – até mesmo em romances – escrevi sobre o amor de um homem por uma mulher, um universo a dois, encontro pessoal de alma e carne. Mas, quantas mulheres há em uma só mulher? “O que quer a mulher?” – já se havia perguntado Freud. E Carl Jung: “Suponho que o avô do diabo entenda muito da verdadeira psicologia da mulher. Eu, no entanto, não”. E Santa Tereza D´Ávila: “Nós, as mulheres, não somos tão fáceis de conhecer.”

De minha parte, portanto, admito tenha sido, mais do que pretensão, um louca aventura. Mas, também, santa, abençoada. Pois, de tanto ler e escrever, de estudar, de pesquisar, de pensar e de refletir, de viajar por dentro de mim mesmo e pela história – algo profundamente transformador me  aconteceu. Não sei, com palavras, dizer exatamente o quê. Atrevo-me, porém, imaginar tenha sido uma conversão, outra conversão. Não à mulher propriamente, mas a Deus, à natureza, à criação, a uma visão de vida ainda mais doce e fascinante. Jamais havia sequer imaginado que, tão próximo dos 80 anos, me haveria de acontecer ainda outra, nova  visão de mundo e de vida. Foi, a princípio, enlouquecedor, como aqueles delírios que acometem o artista.  Mas, após o caos da alma, começou a surgir uma nova ordem, colhendo, em cada passo, um pedregulho, um caco de vidro, uma teia de aranha. Enfim,  uma faxina, simples e fantástica.

Deusa e prostituta, santa e pecadora, amada e amante, sábia e louca, inconstante como a Lua –  minguando e crescendo, tornando -se plena, uma Lua cheia – intuitiva, amorosa e raivosa, mãe, esposa,  curadora, protetora, corpo capaz de, alternadamente, jorrar sangue e jorrar leite… Quem é, o que é? Ela é Eva  e Maria e Madalena. Como não amá-la, não lhe  render respeito? Como não enlouquecer por causa dela?

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