“Não posso fazer nada.”

Nem sequer imagino  como, nos próximos séculos, serão qualificadas estas cinco ou seis últimas dezenas de mundo. Conseguimos falar em Idade da Pedra, do Bronze, em Baixa e Alta Idade Média e sei lá quantas periodizações da História. De qualquer maneira, porém,  importantes para tê-las como referenciais.

O que, de nós, haverão de dizer os pósteros, se tudo  não voar, antes,  pelos espaços? Muitos, possivelmente,   dirão termos sido uma civilização suicida. Se, aliás, nos considerarem uma civilização. Pois nada, pelo que temos vivido, poderá impedi-los de identificarem-nos  como bárbaros. Um tipo, digamos, de bárbaros que se julgavam civilizados.

De minha parte, de já antigo – pois, recuso-me a ser chamado de velhinho, de idoso ou de “tio” – jornalista e ser vivente, quase nem mais acredito no que estamos vivendo. De tantas belezas e conquistas, como essas máquinas e técnicas fantásticas que nos transformam as vidas. Entre elas – na minha vida pessoal – tenho admiração especial pelo forno de micro-ondas. Ah! Quando imaginaria, eu, estourar pipoquinhas num forninho tão adorável? E sem gordura, sem manteiga, sem óleo? Mas isso é muito pouco, apenas técnica, voltada aos aspectos físicos de necessidades e desejos. O notável  é a tecnologia em si mesma, que envolve fenômenos culturais e sociais. E quantos! E os que virão?

Não sei se apenas intuo, se realmente penso, mas começo  a acreditar que a grande questão tem um nome: conforto. Pois estamos, cada vez mais, acostumados com o conforto, com novas técnicas que nos tornam a vida mais confortável. E isso, de tão bom que é, vicia. E vício, qualquer que seja, aliena. Ora, se estou cada vez mais no conforto – refiro-me aos que assim se encontram, exatamente os que têm poder e capacidade de transformação – por que mudar, por que mover-me? Por que incomodar-me, já que incomodar-me é o inverso de  acomodar-me?

As consciências humanas são suscetíveis, também, a soterramentos. A pouco e pouco, vamos tentando escondê-la, silenciá-la, soterrá-la. Então, chega um momento em que a consciência parece ter desfalecido, morrido, desaparecido. É um engano, mas conveniente por algum tempo. Até, no entanto, chegar o dia de ela despertar e, despertando e despertada, gritar nos ouvidos de nossa alma. Infelizmente, permitimos que ela desperte tarde demais. Pode ser nossa derrota ou um renascimento.

“Não posso fazer nada.” – eis a desculpa coletiva no vigor do conforto, do conformismo, da indiferença, do egoísmo.  Isso me permite – com a permissão do eventual leitor – repetir  a historinha do incêndio na floresta. Tudo estava pegando fogo. E o elefante zombou do beija-flor que ia à lagoa e voltava com uma gota d´água no biquinho. “Se eu, com minha tromba, não posso fazer nada, como você, com seu biquinho, irá conseguir apagar o incêndio?”. A avezinha respondeu: “Eu faço a minha parte.”

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