O falso horror do branco

Acredito, hoje – sem hesitações – que uma das bênçãos e maravilhas da vida está no descobrir. São surpresas sem fim. E descobrir nada mais é, na realidade, do que encontrar aquilo que estava coberto. Um cobertor, por exemplo, cobre algo. E, se eu descobrir esse algo, ele aparece. E poderá ser o desconhecido ou o conhecido escondido. Sei lá eu.

Quem procura pode encontrar, achar. A descoberta, no entanto, quase sempre ocorre por acaso. No entanto, por paradoxal pareça,  é preciso estar à procura. Assim, procurando, posso não achar o que procuro. Mas, procurando, posso descobrir o que, para mim, estava encoberto. É mágico. A conclusão, pois, seria – mesmo numa lógica capenga – em nunca parar de procurar. Qualquer criança, ainda que inconsciente, nada mais faz do que estar à procura.  E, quase sempre, acha, mesmo  seja o desagradável, o feio. Mas, também, o maravilhoso, pelo menos para ela mesma.

Em tais coisas, nelas penso, por, novamente, ter-me visto diante do “branco”, o horror e pavor de jornalistas, escritores, poetas, pintores, professores – e, até mesmo, horror e pavor de qualquer ser humano em alguma circunstância da vida. A “página” em branco – e o “branco” diante da página – chega a ser desesperador principalmente ao jornalista diário, que é vítima e escravo do relógio. “Deu branco” – é como se não mais conseguisse pensar, a terrível sensação de impotência intelectual. E o pavor ainda maior: o de que esse “branco” seja definitivo. Um bem, um mal? Uma pausa mais da alma do que do coração?

E – ora, bolas! – o quê está querendo dizer o confuso escrevinhador? Pois é isso aí: “deu branco”, só que de caráter mais simbólico do que objetivo.  Ao contrário de não ter o que manifestar,  há um caos, no sentido da desordem, da confusão.  Por quase um ano inteiro, procurando “descobrir, encontrar, achar” estudos  de Humanidades, eis que, nessa árdua busca, “descobri” maravilhas que, para mim, estavam “encobertas”.  Aconteceu-me, então, o caos de, ainda outra vez, questionar e rever muito que pensei me fosse referencial na vida. A impressão  é a de ter, outra vez, entendido ser a Terra que gira em torno do Sol. O que parecia verdade não era; o misterioso fora, apenas,  desconhecimento.

O branco tem mil significados:  ora de ausência ou de soma das cores; ora de início, ora de  término da vida; a cor do Este e do Oeste, onde o Sol nasce e morre todos os dias. No branco, resumem-se, pois, o princípio e o fim. Diante do “branco” que me deu, não sei narrar  o tanto e quanto que passei a entender de outra maneira. E se for uma “iniciação”, também representada pelo “branco”? Tomara seja. Embora já tenha aprendido que toda busca, que toda procura são iniciações. E que, assim, novamente algo encoberto poderá mudar tudo outra vez…

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