O I(i)nferno de Francisco

Não acredito seja a simples velhice que traga a sabedoria. Pois tem havido, em meu entender, cada vez mais idosos idiotizados. Cabelos brancos e rugas nem sempre simbolizam o saber. Saber de ou alguma coisa é diferente do Saber. E essa nossa caminhada pelo tempo e no espaço pode ser apenas a experiência do inútil, do supérfluo desnecessário. Infelizmente para o ser humano, viver é algo que se aprende. A vida é um dom. Viver, porém, é um aprendizado, são escolhas. E como isso é difícil! E como aprender não tem fim!

Por sua referência ao Inferno – depois negada pela burocracia do Vaticano – o Francisco vive  o seu inferno pessoal. Católicos conscientes devem estar confusos. Talvez, até mesmo angustiados. Qual Igreja Católica preferem,  eles? A dos burocratas e formalistas do Vaticano? Ou a generosa, simples, amorável do Papa Francisco? De minha parte – um católico sempre em conflito –  não tenho  dúvida: quero e fico com a de Francisco. Pois estou entre as multidões que não mais suportam leis impraticáveis, regras apenas punitivas, mais castigos do que prêmios. Mais desgraças do que bem-aventuranças.

Mas – que fazer? – há  a perturbadora questão:  “Credo quia absurdum”, creio por ser absurdo, frase atribuída ora a Tertuliano, ora a Agostinho. Convenhamos haver  muito de verdadeiro nessa afirmação. Pois, ao não se entender mais nada, quando nada mais se explica, tudo o que resta é crer. Em algo, em alguém, no divino, no desconhecido. Talvez, o nome disso seja esperança. Ou conformação. Ou medo, sei lá, eu.

A controvérsia do “ disse-não-disse”, em relação a Francisco, traz-me recordações saudáveis e, também, tormentosas. Ora, o nosso era um lar de muita fé, mas de pouca religião dominante. Dizíamo-nos católicos. E éramos. Mas de certa maneira mais suave, digamos que liberta. Meu pai – católico e maçom – ensinava-me: “Céu e inferno não são lugares. Estão aqui mesmo entre nós.” Vai daí, padres salesianos – e estávamos no início dos 1950  – ameaçavam-nos com o fogo do Inferno, com demônios, com diabos e – por terrível pareça –  castigo por toda a eternidade! E o que era a eternidade? Eles contavam uma historinha: “Uma montanha de diamantes de mil metros de altura e, a cada mil anos, um passarinho  dá uma bicadinha nela. Quando a montanha desaparecer, ter-se-á passado, então, o primeiro segundo da eternidade!”

O que pode haver de mais terrível, de mais amedrontador? Felizmente, muito cedo ainda, escolhi céus e infernos ensinados por meu pai. São aquilo que podemos fazer da vida. Na vida.  E mais: o inferno coletivo não precisa, necessariamente, ser o de cada um. O céu e a paz definitivos universais são, ainda, utópicos. Mas cada um pode escolher o que, pelo menos,  deseja. E, então, ir fazendo sua própria construção. “Chi lo sa?”

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