Quem já foi já era

novo-brasilNão aguento mais! Por isso, tive a tentação de iniciar esta escrevinhação com palavrões. Todos eles. Não o fiz, porém, por estar, em mim, consolidado o conceito do velho jornalismo de, tendo assinantes, o jornal ser visitante na casa de quem o adquiriu. Uma visita deve respeitar ao seu hospedeiro. Ou, então, será mandada embora. Pelo menos, era assim antigamente. Jornais e jornalistas obedecem – ou obedeciam? – a esses princípios de civilidade, de respeito e, em especial, de honestidade.

Não escreverei palavrões, mas penso neles a cada frase. Não aguento mais! Nunca imaginei chegasse, este país, a tal nível de canalhice, de desmoralização, de obscenidade. Não foi isso – e Deus é nossa testemunha – pelo que muitos de minha geração tanto lutamos por duas décadas que pareciam sem fim. Queríamos a liberdade, a decência, a dignidade, a justiça verdadeira e não a mistificação; buscávamos a democracia íntegra e não a dissimulada. Perdemos os melhores anos de nossas vidas na luta por um Brasil cujo destino é, sim, ser o grande provedor do mundo. Lutamos por justiça, pelo fim de iniquidades, de violências – físicas e psicológicas – a que éramos submetidos. Não fugimos para o exterior. Não nos exilamos para lecionar na Sorbonne. Ou para retornar vestindo tanguinhas de tricô. Ficamos aqui, no palco do terror, assistindo a oportunismos indecentes e a adesões vergonhosas.

Recusei-me a me meter nessa pantomima toda que – por ingenuidade de muitos – ocupou as ruas. De ambos os lados. Estava óbvio – para qualquer um, minimamente inteligente – que se tratava de trocar o roto pelo rasgado, o sujo pelo mal lavado. Não era verdade que as instituições permaneciam íntegras. Elas já estavam carcomidas. Logo, a questão não era e nem é a de trocar pessoas, mas a de uma completa revolução político-jurídica no país. Revolução sem armas, sem sangue. Com ideias generosas, com propostas sólidas e atualizadas, com o civismo que nos tem faltado para honrar a grande pátria violentada.

Não se mudam apenas as moscas se o lixo permanecer o mesmo. A varredura tem que ser completa, faxina total. O grande desafio – especialmente para as novas gerações, para esse juventude inquieta por falta de referenciais – está na construção de um novo Estado, com uma Constituição renovada e aberta para o futuro que também é desafiador. Não é a atual classe política que poderá fazê-lo. Basta de ideias e de vícios que nos chegam desde o século 19. Basta de lobos e raposas que, quanto mais velhos ficam, mais experientes e especialistas em fazer vítimas. Um novo Brasil será construído por uma Assembleia Constituinte com anteprojeto elaborado por sábios de nossas universidades, não por políticos matreiros. Elaborada e discutida pelo povo, apreciada em eleições constituintes das quais não poderão participar os que já exerceram cargos eletivos. Um lema, uma só voz: quem já foi já era! E, portanto, não mais virá a ser.

2 comentários

  1. Angela Celia Kraide Corte Real em 12/05/2016 às 07:56

    Texto fantástico , como sempre .Parabéns ,
    , amigo

  2. robertalessablog em 12/05/2016 às 17:52

    Elias… Encontro-me estarrecida e jamais imaginando que a doutrinação emburrecedora de meu país fizesse tal estrago. Meu peito aperta, minhas mãos tremem, meu útero seca, num misto de descrença e de mudez diante do que ocorre e infelizmente seremos vitimados.

    PÁTRIA: AMORDAÇADA: Possa eu esquecer e renovar esse novo ciclo que anuncia. Espero estar defendida para tudo que virá por ferir.
    PÁTRIA USURPADA: Possa eu surpreender e libertar esse novo ciclo que pronuncia. Espero estar protegida para tudo que ferirá por parir.
    PÁTRIA ILUDIDA: Possa eu arrefecer e elevar esse novo ciclo que judia. Espero estar nutrida para tudo o que parirá por conferir.
    PÁTRIA ENSANDECIDA: Possa eu reconhecer aguentar esse novo ciclo que diferencia. Espero estar esclarecida para tudo o que conferirá por agredir.
    PÁTRIA ENGANADA: Possa eu desconhecer e desconsiderar esse novo ciclo que judia. Espero estar fortalecida para tudo que agredirá por sentir.
    PÁTRIA ROUBADA: Possa eu esclarecer e divulgar esse novo ciclo que repudia. Espero estar destemida para tudo que sentirá por agredir.

    AH, PÁTRIA MINHA: Meus Pêsames Pátria amada e idolatrada, Salve! Salve!

    E SALVE-SE BRASIL

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