Retorno (2)

Foi um tempo em que a juventude sonhou com mundos novos, com rompimento de tabus, de preconceitos.  Beatles, Elvis Presley, o rock, a bossa nova… Mas, ainda, a imagem viva e então permanente de uma vibração espiritual que parecia eterna: Edith Piaff, Elis Regina, Maysa, Sinatra… E a chegada do Homem à Lua! Foi um sentimento universal de perplexidade. Conseguíramos chegar lá! Mas, conseguido, havíamos o quê?  O quê buscávamos? A alegria da conquista  emudeceu-se pelo medo das consequências.

Naquele dia, ele teve, também, consciência de  não haver alternativa. Saíramos  de um patamar,  mas o degrau anterior desaparecera. Ou  continuar subindo, ou cair para o buraco que se criara. Íamos em busca de um outro teto. Mas tínhamos perdido o chão, o alicerce. E não sabíamos disso, no vazio que se acumulou nos peitos jovens, no recolhimento dos sábios, nas inquietações dos que descobriam, por fim, não ter mais nenhum poder. Nem mesmo os falsos poderes com que se  viviam fantasias e ilusões.

Parece paradoxal.  Mas o novo não surge se não houver paradoxo, que é o pensamento ou a ideia contrários a crenças tidas como imutáveis. Era preciso mudar, queríamos mudar. Como, porém,  mudar o mundo sem mudar o ser humano? E lá estava o paradoxo: o ser finito aventurando-se em busca do infinito. Pois a juventude não acredita em fim,  em perecimento. A juventude sonha sem poder, todavia, desfrutar do próprio sonho quando este se torna realidade. E pode ser-lhe  uma bênção. Pois, se ou quando   se realiza, o sonho do jovem é transformado pela geração que o sucedeu. E pode tornar-se um pesadelo.

Ora, estamos na mais brilhante, admirável, espantosa  era da Humanidade. Não há como negá-lo ou disso duvidar. Paradoxos estão soltos no ar, transformações, mudanças, o império do descartável e, portanto, o final do durável, do duradouro. Marx – com a sabedoria que lhe negaram com o advento do comunismo – já antevira: “Tudo o que era sólido se desmancha no ar. Tudo o que era sagrado é profanado.” E as pessoas tinham, pois, que se adaptar. Mas a quê? A que se adaptar?

A Humanidade assistiu a mudanças e revoluções extraordinárias, cada uma delas em seu próprio tempo. Nunca, porém, se chegou a tal e  terrível realidade,   de poderes  inimagináveis estarem em mãos de tão pouca gente. Mas aconteceu. Estamos acossados. E nenhum exagero há em dizer-se estarmos escravizados. A inteligência artificial tenta  substituir a humana. Há alguma saída? Ele acredita que sim.

Ela está no retorno, que nada tem de regresso ou de fuga. Retorno é aquilo que se encontra logo à frente quando, na estrada,  se erra o caminho: um simples aviso. Retorno para começar de onde se errou. Com novos e esplêndidos instrumentos.  Ou recuperar o tesouro que se perdeu. Como? Esta é a mágica para  cada um.

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