Vai piorar. E muito!

Há poucos anos – não sei se dois ou três – fui honrado com um convite para uma palestra na Maçonaria. Iniciei  a palestra dizendo exatamente as palavras que estão no titulo desta escrevinhação: “Vai piorar. E muito!” Piorou. E irá piorar ainda mais.

Não se trata de cassandrismo,  de ficar invocando desgraças, como, erroneamente, se diz da pobrezinha da  Cassandra. Ela apenas anteviu o que era possível ver – os militares na barriga do Cavalo de Tróia – e nenhum troiano acreditou nela. Deu no que deu. Ora,  a realidade está tão evidente e óbvia que não é possível nos deixemos enganar tão dramaticamente. Basta pensar, refletir. Mas isso, hoje, parece absurdamente difícil. Ou amedrontador: não se pensa por medo de saber.

Já sequer nem mais refiro a corrupção, ladroeiras em quase todas as áreas. Cansei. Conheço  essa história desde a morte de Getúlio Vargas, em 1954. O grande receio – para não nos referirmos ao Grande Medo – está na apatia das lideranças sociais diante do caos em que mergulhamos.  É como se praticamente todos os valores tivessem sido rompidos. E, foram-no, sim, quase todos. É um terremoto universal na ordem política, econômica, social, moral, religiosa, familiar,  em todos os aspectos da vida humana. Já aconteceu antes,  mas a chamada “era da informática” é a mais transformadora. Para o bem e para o mal.

São realidades irreversíveis. Absolutamente irreversíveis. E aí está um dos resultados: uma sociedade de trabalhadores sem trabalho. E nos limitamos, apenas, a protestar e a exigir soluções de quem está no comando. Mas eles não as têm. Perdemos tempo, energia e inteligência discutindo os efeitos e nem sequer nos arriscarmos a ir às causas. Pedimos mais cadeias e presídios de segurança máxima – alarmado pela  violência generalizada, pela disseminação de drogas e vícios que destroem adolescentes e jovens – mas, na realidade, estamos querendo é enfrentar os efeitos. E as causas? Por que tanta violência, por que tantas drogas e drogados, por que a perda de esperanças? Pensar nisso e discuti-lo é mais difícil, não?

Por que vai piorar? Ora, o que há de mais simples? Pensamos nos milhões de desempregados – e com razão – mas não estamos preocupados com os milhões de jovens que ingressam no chamado mercado de trabalho. Ano a ano, milhões de jovens e adolescentes. E a oferta mais próxima, mais rentável, mais desesperada que se lhes oferece é a dos traficantes de drogas, do mercado do sexo. Que jovem, que pai de família irá pensar em legalidade e moralidade se estiver morrendo de fome? Qual a alternativa?

Uma das mais graves advertências – e, única, talvez, solução – já nos foi apresentada há cerca de uma década pelos próprios criadores da globalização: “Pensar globalmente, agir localmente”. Piracicaba tem que dar esse passo. Ou…

3 comentários

  1. marcelo basso em 06/03/2018 às 16:44

    Um alento ler esse artigo, preciso e essencial. Parabéns

  2. LUIS ANTONIO RE em 07/03/2018 às 07:43

    Bom dia, realmente é assustador, a apatia das lideranças sociais diante do caos em que mergulhamos., como sempre seu dedo na ferida!

  3. Josef Borges em 01/04/2018 às 20:33

    Vamos falar de Piracicaba. O que se tem feito para os jovens? Principalmente na periferia o que tem para eles lá? Porque não criar cursos profissionalizantes ( esqueça computação pelo amor de Deus é o que mais ouço). Pedreiro, Pintor, Mecânico, Marceneiro, Funileiro, Cabedeleiro, Manicure, Pedicure, Bordado, Pintura Artesanal. Um programa que dê o curso e ainda os insira no mercado empreenderismo. Tudo isso diminuiria os altos índices de inseguranças, traria renda a bairros periféricos e ainda tributos a maquina administrativa, Não é difícil
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