A Câmara na berlinda.

Na página Idéias, estamos divulgando, por oportuno, um dos artigos mais significativos saídos, nos últimos tempos, na imprensa piracicabana, do assistente social Antônio Carlos Danelon, que Piracicaba conhece por sua vocação de serviço. Totó Danelon, serena e sabiamente, fez observações que, na realidade, estão na inconformação popular, diante de subserviências e servilismos de vereadores ao Poder Executivo local. Um dos maus exemplos mais preocupantes tem sido o de um vereador sindicalista, que, eleito por uma base operária, se tornou fiel escudeiro do Executivo, bebendo nas mansas águas do córrego onde o prefeito fica à espreita de cordeiros. O lobo e o cordeiro encontraram-se novamente, como a dizer que as fábulas narram, na verdade, a alma humana.

Quase que ao mesmo tempo da publicação daquele artigo, a Câmara Municipal, na última quinta-feira, foi palco de uma demonstração melancólica e deplorável de servilismo ao Executivo, fatos tão desabonadores que o vereador Pira, homem simples, falou, da tribuna, o que Piracicaba começa a perceber com clareza meridiana: “Que se jogue no lixo a lei orgânica dos municípios.” Pois a maioria que apóia o prefeito – com a honrosa exceção do vereador Capitão Gomes, que retorna às suas origens de pugnar por altivas participações na política – se rendeu à evidência: o prefeito tripudiou sobre a Câmara, como costuma fazer também com seus mais próximos assessores – quase todos servis ou omissos ou coniventes – na sua vocação autoritária e, portanto, menor: “L´État c´est moi.” Mas sem qualquer majestade, a não ser a prepotência das pessoas interiormente frágeis.

Ora, o poder eminentemente popular é o Legislativo. Se ele se rende, se esse poder se amesquinha, se tal e fundamental instituição política se deixa submeter – então, realmente, há que se perguntar, como o povo já pergunta: para que serve o Legislativo? E essa pergunta se acentuou quando, na sessão do grande bate-boca na Câmara Municipal, o presidente da casa, vereador João Manuel, perdeu grande oportunidade para se revelar magistrado diante de seus pares, optando pelo papel de atendente do prefeito municipal.

Pelo menos, algo novo começa a acontecer: oposição e situação definem-se mais claramente. O artigo de Totó Danelon refletiu uma realidade amarga que se confirmou. Felizmente, há, ainda, quem respeite o pudor democrático.

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