A deterioração torna péssimo o ótimo.

Sinto-me honrado e com sensação de dever cumprido, quando – após essa já longa vida dedicada à minha terra – me colocam como um dos contadores dessa história. Sou, destes 51 anos, testemunha ocular. E, por isso mesmo, estou ora no palco, ora na platéia; ora como ator, como espectador. Mas vi e ouvi, registrei e registro. Não abri mão de minha responsabilidade de, como jornalista e intelectual, ser “cão de guarda” de minha terra, de minha gente. E, mesmo caminhando no tempo – pois somos nós que passamos por ele, não ele, o tempo, que passa – as forças que sobram são para prosseguir na missão. Minha geração é a do jornalismo missionário. E isso implica fazer o que a consciência e as convicções obrigam, não aquilo que outros desejam. Sem buscar recompensas.

Honro-me, pois, de estar entre os primeiros contadores da história da Unimep e de ser, ainda, contador da história de minha terra, de meu povo, essa história feita de heroísmos, de dignidade, de honradez, apesar dos inevitáveis assaltantes que buscam ultrapassar os muros da cidadela. E da Unimep – há mais de 20 anos, quando ela já se ia consolidando – tive o privilégio de prever que ela seria o marco a oferecer referenciais a Piracicaba, a um novo tempo. A ESALQ, olímpica em sua grandeza internacional, continuaria sendo o nosso símbolo, orgulho patriótico, signo maior. E a Unimep, uma universidade voltada aos valores regionais a partir de princípios sólidos, seria o nosso referencial, um patrimônio cultural e moral a ser cultuado, cultivado e preservado.

Essas coisas, volto a insistir nelas, porque muitos pensam – ou tentam transmitir a idéia – de que se trata, apenas, de uma crise financeira, de ordem econômico-administrativa. Se fosse, seria contornada, como ocorreu outras vezes. E se o próprio IEP e a Igreja Metodista não conseguissem fazê-lo, bastaria acenar um pedido de ajuda para Piracicaba mobilizar-se, acorrendo, participando, sempre colaborando. Pois a Unimep é piracicabana. No entanto, a crise que aí está – em sendo, também, financeira e com causas diversas, incluindo a dos tempos mercantilizados na educação – é, acima de tudo, de ordem moral. E são esse descaso e essa banalização para com a ordem moral – que foi e é a força da Igreja Metodista e também da universidade – que angustiam e atormentam os que sabem da importância desse tesouro tanto para os seculares metodistas como para a Piracicaba que conviveu com seus ensinamentos e honradez.

O problema é moral porque Davi Barros, representando uma ala da Igreja Metodista, escolheu o caminho do mercado, sendo apenas simulação essa desculpa de que há de se mudar para salvar. Quando se mudam os princípios, não há o que salvar. E nem há necessidade de salvação alguma. A escolha de Davi Barros é pelo espírito mercantilista, pelas faculdades de mercado, pelos preços mais baixos nem que isso importe renúncia à qualidade, ao espírito norteador, à raiz cristã. Mamon e Cristo não convivem.

O que ocorre na Unimep, sob o cabresto de Davi Barros, é, apenas, a morte de uma filosofia pela imposição de filosofia alguma a não ser a do lucro. Acontece, sob o coturno de Davi Barros, o que tem acontecido na sociedade como um todo: se todos mentem, por que não posso mentir; se todos enganam, por que não posso enganar; se todos lucram com simulações e engodos, por que não posso fazer o mesmo? O diferencial da Unimep é que ela “não fazia” o mesmo. O diferencial da Igreja Metodista que a criou é que ela “não fazia” o mesmo.

Mas Davi Barros quer “fazer o mesmo”: cursos mais baratos, disputa por alunos, diminuição de custos sem se importar com a destruição da qualidade e, acima de tudo, a política apenas contábil, como se houvesse contabilidade no espírito humano de universalidade. A Unimep daquela Igreja Metodista era a que Piracicaba respeitou, à qual agradeceu, com a qual conviveu orgulhosamente, a do “Ide e Ensinai”. A Unimep de Davi Barros e de bispos que concordam com essa destruição é a do “Ide e Lucrai”. Essa a grande tragédia, pois tal universidade, de Davi Barros, será pior do que as outras que enriquecem com a mesma proposta. Porque as outras já nasceram querendo apenas o lucro. E a Unimep – “se todos fazem, por que não posso fazer?” – nega valores evangélicos, valores missionários, valores morais para competir no mercado. Por quê – será lícito perguntar – estudar na Unimep se ela descer ao nível de qualquer outra?

E, pior que tudo – e não consigo entender como a cúpula da Igreja Metodista não o percebeu – é que, desgraça.

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