A farra do bode.

Está óbvio que uma Piracicaba consciente e decente hesita em reagir. Mas, por enquanto. Vozes parecem ser isoladas, mas não são. Refletem o pensamento de grupos, de bairros, de entidades, de instituições. Piracicaba, por seus dirigentes institucionais, pensa estar vivendo a “farra do bode”. Mas, também, não está. São últimos suspiros, últimas mentiras, últimas pressas que enchem tanto e tanto estômagos apressados e insaciáveis que eles regurgitam. Regurgitam é vomitar. Há duas Piracicabas vomitando: a oficial, que regurgita de seus próprios enjoos  de gulas indigestas. E a Piracicaba real, que vomita e regurgita diante de tantos acordos, conveniências, pactos e parcerias nos quais a população está ausente. Abrir ruazinhas, rotatórias, colocar semáforos, pintar paredes – isso já o fazia o velho e esperto Luciano Guidotti, mais marqueteiro do que os atuais.

Piracicaba está sendo administrada para os automóveis e para as classes mais favorecidas. E há um desrespeito tão grande em relação a um mínimo de satisfação à opinião pública que se pode ter a impressão de uma anestesia coletiva. Mesmo, porem, que exista essa anestesia, ela é parcial e provisória. Pois um dia chegará que, diante do silêncio estranho da maioria da Câmara de Vereadores, esse povo, que se organiza silenciosamente nos bairros, saberá dar respostas a insultos de que vem sendo vítima. Vejam-se, por exemplo, o acinte e o desrespeito das tais placas anunciadoras de obras a serem feitas – mesmo que um campinho de bocha – e as que foram concluídas. Em que outra cidade que se respeite se vêem anúncios de “obras concluídas”, que permanecem meses e meses após a conclusão? V

O povo sabe fazer piada de sua própria desgraça. Pois, em cemitérios, conseguiu falar, diante de sepultamento polêmico, de “outra obra concluída da administração municipal.” O povo reage e, quando o faz, sabe ser impiedoso.

A Prefeitura é a maior poluidora visual de Piracicaba, ao contrário do que fazem em São Paulo os partidos da mesma aliança do prefeito de Piracicaba: eles “limparam” São Paulo da farra do bode de outdoors, de abusos, de postes transformados em parafernálias. E, como se estivesse mesmo na contramão da história, a Prefeitura de Piracicaba tudo continua fazendo para facilitar o acesso e a movimentação de veículos particulares – abrindo ruas, alargando avenidas, escancarando ruas centrais – enquanto, no mundo civilizado, tudo se faz para diminuir o uso individualista de veículos. Até pedágio tem sido cobrado, em cidades civilizadas, para veículos chegarem a ruas e praças centrais. Aqui, abre-se tudo para os veículos, levando-se a desconfiar até mesmo que o arquiteto João Chaddad goste de brincar de carrinho. E que a Prefeitura adore servir interesses nem sempre claros.

Por isso, na periferia, a marca da administração está sendo carimbada como uma nova “luta de classes”, abrindo um debate que se aproxima: um governo para os ricos, com perfumaria para os pobres.

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