A OAB cansou. Que bom!
Das mais alvissareiras a divulgação de que a OAB, seção de Piracicaba, também cansou, aderindo ao movimento “Cansei!” deflagrado pela secção da capital paulista. Isso é ótimo. Mais do que ótimo: alvissareiro. Mesmo que tenham sido poucos os advogados que saíram em fotos, que estenderam faixas e que assumiram o movimento. O que vale é a intenção. E, em Piracicaba, essa manifestação da Ordem dos Advogados deve servir como estímulo à população para dar, também, o seu grito de “Cansei!”. Mas um grito verdadeiramente amplo, que não se dirija a apenas alguns setores político-partidários, mas a todos, onde quer que haja corrupção, desonestidade, mentiras, farsas e engodos ao povo e aos cofres públicos.
Piracicaba, por exemplo, está necessitando, há muito, de tais reações indignadas de instituições honestas e responsáveis.
Ora, a manifestação da OAB, pela secção da comarca de Piracicaba, faz supor que os interesses primeiros dos ilustres advogados – homens que têm, por escolha, a lei, o direito e a justiça como fundamento de vida, profissional, pessoal e comunitária – faz supor, insisto, que os interesses primeiros estejam na nossa comarca, da qual Piracicaba é cabeça. Terá que ser assim, para não se ficar em teorização simplista ou demagógica, como ocorre com alguns analistas e colaboradores da imprensa, que vêem o cisco no olho da Presidência da República, mas que não vêem as traves nos olhos de sua mais próxima comunidade. Ora, não passará de brincadeira e de uma farsa para com a opinião pública se as secções da OAB não cuidarem da corrupção em sua própria terra, onde seus advogados vivem, convivem, coexistem e cuidam do Direito.
Em plena ditadura militar, a OAB de Piracicaba manifestou-se heroicamente contra, por exemplo, a corrupção nas delegacias de polícia, diante de investigadores e policiais que se revelaram indignos de suas atribuições. Havia uma dignidade exemplar comandada por advogados e juristas – para citar apenas três, dos muitos – do naipe de Jacob Diehl Netto, de Marcos Toledo Pizza, de José Luiz de Mesquita. A OAB foi paradigmática, também em Piracicaba, na luta pelas liberdades democráticas, pelo estado de direito, pela justiça, em defesa dos indefesos, aliada dos pequeninos. Isso, no entanto, não aconteceu, há apenas alguns anos, quando dois jornais piracicabanos foram censurados por políticos profissionais, temerosos de que se lhes revelassem desmandos e corrupção, exatamente o de que, agora, a OAB se diz cansada.
De minha parte, fico feliz com esse posicionamento corajoso, bravo e decidido da OAB de Piracicaba. É a certeza de que, enfim, os poucos homens que têm lutado contra a corrupção em e de Piracicaba não estamos mais sozinhos. Voltamos – enfim e que bom! – a ter, na OAB, um poderoso aliado para uma luta moralizante e moralizadora, em todos os setores da vida pública. A PROVÍNCIA se coloca à disposição dos nobres membros da OAB para as informações que forem necessárias quanto aos bastidores da política piracicabana, de rastros deixados por santos com andores de barro. Aliás, em segredo de Justiça, correm e correram processos altamente elucidativos para quem desejar ter uma visão, pálida que seja, do que tem acontecido em Piracicaba.
Parabéns à OAB. E que seu cansaço reverta em benefício e alívio a todos os piracicabanos, uma certeza de novas vozes em busca do reerguimento moral também em nossa terra.