A Piracicaba de todos.

Não deve soar como novidade a informação do IBGE de a maioria da população de Piracicaba – cerca de 53% – não ter nascido no município, pessoas e famílias vindas de outras localidades. Essa é, na realidade, toda a história da formação da sociedade piracicaba, uma terra que surgiu para acolher, para receber, para ver a reprodução a partir da soma. Há uma atração singularíssima de e em Piracicaba: quem a escolhe como sua morada se torna ainda mais apaixonado do que aqueles que aqui nasceram. Pois nascer num lugar pode até ser acidental. Escolhe-lo como moradia é uma opção. Por isso, os chamados piracicabanos de adoção são, na verdade, piracicabanos por opção. E isso é ainda mais admirável e, por isso, merecedor de respeito também maior.

Não há necessidade de falar de nossas origens, da presença marcante de ituanos na povoação da aldeia piracicabana. Mas nunca será demais lembrar que, nos séculos 18 e 19, alongando-se até meados do 20, Piracicaba foi verdadeiramente construída por homens e famílias que a escolheram como sua morada. A começar dos Moraes Barros e Luiz de Queiroz, passando por Nicolau de Campos Vergueiro, além dos barões ao longo do Império. A acolhida aos imigrantes italianos, alemães, suíços, austríacos, sírios, libaneses, espanhóis, japoneses, de tantos e tantos países e de tantas e tantas etnias – esse cadinho de pessoas vindas de tantas localidades permitiu Piracicaba fosse uma cidade e uma sociedade plurais, no quase milagre de manter suas raízes a partir do adubo cultural dos milhares que para cá vieram.

Estudar, mesmo que rapidamente, a história das instituições educacionais – em especial, Colégio Piracicabano, Assunção, ESALQ – é descobrir como Piracicaba, desde o final do século 19, conviveu com tantos rapazes e moças de outras localidades, em suas escolas e internatos. Instituições centenárias criam raízes de vitalidade e força ímpares. Talvez, na realidade, o que mais nos falte – e isso deveria ser preocupação preferencial do Poder Público e de nossas lideranças – é fortalecer, nas escolas e junto aos jovens, a consciência do valor desta terra, o conhecimento de nossa história e de nossos ancestrais.

Há um mistério de sedução em Piracicaba. De um lado, “o filho ausente a suspirar por ti”. De outro, os que para cá vieram por escolha, por opção, amando-a tanto e quanto, ou mais, do que os que aqui nasceram. É como se, escolhendo-a para seu lar, os que para cá vêm tivessem mais cuidados, mais zelo e mais amor. Ela é de todos, a Piracicaba que adoramos tanto.

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