A ponte é DO MORATO.

O nome desta cidade existe graças à perseverança, brios, amor e senso histórico do grande Prudente de Moraes. Fosse pelos políticos da época, Piracicaba continuaria trocada por Vila Nova da Constituição ou Vila Joanina, como a Câmara Municipal pretendeu em bajulação à Corte. Prudente de Moraes – os Moraes Barros, na verdade, e em toda sua inteireza -nos deixaram uma tradição de civismo que foi honrada, até pouco tempo, por nossas mais lúcidas lideranças. Há uma história que nos aponta caminhos, que nos dá o Norte. E ela foi escrita por homens que, independendo do regime político, nos engrandeceram na construção de um estilo de ser desde o século 19: os Moraes Barros, Luiz de Queiroz, Aquilino Pacheco, os barões de Serra Negra e de Rezende, entre tantos e tantos outros.

Somos uma cidade com peculiaridades ímpares. Poucas, como Piracicaba, têm instituições centenárias como as que ainda nos estão vivas e presentes. O nome disso é tradição, que não significa imobilismo ou passadismo, como querem os incautos ou despreparados. Tradição é entrega, transmissão, herança, doação. Cultura há e permanece como conseqüência da transmissão, enriquecendo-se a partir da semeadura de cada geração. Em nenhum país civilizado do mundo, mexe-se com ícones, com símbolos, com marcas, com nomes, com imagens. Piracicaba, ao lado da lucidez de um Prudente de Moraes, teve seus iconoclastas que nada mais fizeram do que valorizar a lucidez dos chamados homens bons. Basta lembrar dos bandos de salteadores que aterrorizavam o povoado, impedindo a implantação das posturas municipais, a criação do rocio. Entre homens cultos e de luzes, Piracicaba teve bárbaros e tolos.

Ora, foi aqui que se intentou contra monumentos públicos, violando-os para construção de modernismos insípidos e passageiros. É de André Malraus a observação: “Pelos monumentos de uma cidade se conhecem os grandes homens dela.” E, por monumentos, há que se entender não apenas aqueles talhados na pedra ou no bronze ou no mármore, mas os erigidos pela memória, pela cultura, pela tradição escrita e também oral. Piracicaba tem características, insisto, ímpares. O rio que a corta, o salto que a homenageia, a Rua do Porto, escolas e instituições centenárias, celeiro de grandes homens que sempre foi, terra de artistas, de escritores, de pintores, de homens de bem. E uma linguagem, senão própria, peculiar, característica. É uma terra de ruas e de lugares com nomes especiais: Chicó , Paredão Vermelho, Paiero, Nhô Quim, estrada da Boiada, Jupiá, o formidável Bongue a cuja caminho deram nome de gente e não funcionou. O mesmo acontece com a Avenida Beira Rio. Quem se lembra de que se chama Miguel Benício Assunção Dutra? E as Ondinhas, o Serrote, o Pau D´Alho, o Pau D´Alhinho? E quem sabe de nome de dupla sertaneja para a ponte pênsil?

Ora, é meritória e digna de aplausos a decisão da Prefeitura em ampliar a Ponte do Morato, ligando a margem esquerda à direita do rio, do chamado centro à Nova Piracicaba. No entanto, é absolutamente infeliz, sem sentido, desprovida de senso histórico e, mais ainda, atentatória à alma piracicabana a sugestão do vereador Capitão Gomes para nominar a ponte de Ponte Vila Rezende. O mais estranho é que a sugestão venha exatamente do Capitão Gomes, um político que sempre se mostrou atento aos valores piracicabanos, à alma caipiracicabana.

Aquela é, na alma e no coração do povo, a Ponte DO MORATO, porque aquela também é a região do Morato, caminho que conduzia à chácara do Morato, um espaço culturalmente sagrado porque reverencia um dos maiores piracicabanos de todos os tempos, o doutor Francisco Morato. O Fórum de São Paulo se chama Fórum Dr.Francisco Morato. Há ruas, avenidas, lugares com o nome Francisco Morato, um dos mais reverenciados brasileiros de nossa história. E, agora, a Câmara Municipal de Piracicaba terá a ousadia, a coragem de coonestar uma sugestão esdrúxula e ofensiva, que é a de tentar matar a tradição, matar um nome, matar uma história?

Aquela é a ponte DO MORATO, sim, senhores. Nenhuma lei tirará esse nome da alma piracicabana. O Capitão Gomes, homem de boa vontade, haverá, com certeza, de reconhecer a inoportunidade de sua sugestão.

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