Antônio Ermírio e Lula.

O povo reage ao governo conforme interesses fragmentados, quase nunca na totalidade, mesmo porque a nação é formada por segmentos. Governos que privilegiam, por exemplo, classes mais abastadas serão, inevitavelmente, estigmatizados pelas classes populares. E o inverso também acontece.

O bom governo é aquele que, da maneira mais equânime possível, atende as populações em seus contrastes, confrontos e conflitos de interesses. O governo de Lula parece estar desagradando, nos últimos meses, apenas a grupos políticos da oposição, a setores ideológicos radicalizados, a idiossincrasias insuperáveis e a grupos econômicos atropelados por confrontos em competições que definem vencidos e vencedores.

Até pouco tempo, no governo Fernando Henrique por exemplo, havia uma verdadeira grita do chamado empresariado nacionalista contra a abertura ao capital internacional, que invadiu o país adquirindo grandes empresas, dominando as telecomunicações, influenciando veículos eletrônicos de comunicação, comprando bancos, financeiras, etc. Os que se uniram ao chamado capital internacional rejubilaram-se. Os que se sentiram excluídos ajudaram a eleger Lula que, surpreendentemente, vai conseguindo manter um ideário trabalhista com um desempenho capitalista. Lula consegue o quase milagre de realizar o socialismo-liberal, seja lá o que isso for ou pretenda ser.

Importante, por isso, foi a última entrevista concedida pelo empresário Antônio Ermírio de Moraes, um ácido e até mesmo feroz crítico do governo do Presidente Lula, de muitos aspectos de sua orientação de ordem econômica e de seus propósitos e desejos desenvolvimentistas. Antônio Ermírio, enfim, aplaude o governo de Lula. E isso equivale a uma bênção do empresariado, ainda que setores da Fiesp se sintam incomodados e sonhando com a volta dos tucanos ao poder.

Quando um empresário da importância de Antônio Ermírio se rende aos acertos de um governo com marcas tão fortemente populistas, o sinal está dado: a oposição está gritando por gritar, querendo mais atrapalhar do que ser oposição, buscando mais negociar do que realmente cumprir seu papel de vigia e de fiscalizadora.

Com a bênção do empresariado e com o encantamento das classes menos favorecidas, a consolidação do governo de Lula é uma realidade espetacular, pois sobrevive a maremotos de denúncias, de acusações, de suspeitas e de preconceitos. Não há como deixar de refletir sobre algo como predestinação, a desse nordestino que, chegando a São Paulo num pau de arara, se afirma como uma das principais figuras históricas deste país, em todos os tempos. Se até Antônio Ermírio se rendeu…

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