Ave, César, o barbarense

É óbvio que escrevo – às 23h47 da gloriosa noite da vitória da região caipiracicabana na China – sob intensa emoção. Cesar Cielo Filho – a primeira medalha de ouro olímpica, na epopéia chinesa, recordista também olímpico – é de Santa Bárbara d’Oeste, gente nossa, um referencial a partir do qual precisamos refletir muito além do esporte, como um estilo e uma filosofia de vida. Cielo não se tornou campeão por acaso. E, nos primórdios das Olimpíadas, campeões eram heróis, parte do Olimpo, modelos de vida e balizas a partir das quais as gerações deveriam nortear-se.

O caipira Cesar Cielo não é campeão por sorte. Esse campeão olímpico e recordista mundial é, antes de mais nada, fruto do espírito familiar, inevitável e formidável conseqüência da força do amor do clã, da caverna, do aconchego de lar, lareira, fogão. O barbarense Cesar Cielo é campeão por ter – a animá-lo, a mantê-lo, a dar-lhe forças – o suporte moral de seus pais e parentes. Sem eles – cuidando de seus talentos e estimulando-os – Cesar Cielo não seria esse formidável campeão, nosso campeão, o caipira que encantou e deslumbrou a China e o mundo.

Temos, enfim, um herói, esse referencial de que a nossa juventude precisa, o de que vale a pena acreditar, crer, sonhar e, não apenas, deixar a vida passar e morrer em baladas estúpidas, em tolices que incluem vaidades de 15 minutos, fotos em revistas tolas, notas em colunas sociais mercantilizadas. Cesar Cielo – na luta de cada dia, na busca de um sonho, no enfrentamento de dificuldades e na crença de um desejo – deve, em meu entender e a partir de hoje, ser um símbolo e um referencial de nossa região caipiracicabana, mediocrizada por “novos ricos”, por expectativas de etanol e por formações de verdadeiras quadrilhas que se unem em nome de um desenvolvimento enganoso.

Cesar Cielo – campeão olímpico, recordista mundial, caipira – mostra o caminho à nossa juventude, minada e enfraquecida por referenciais apenas mercantilistas de mundo. A região piracicabana, a região caipiracicabana, já deu campeões mundiais: De Sordi, Mazola, Chicão, alguns outros. Mas ninguém, até aqui, como Cesar Cielo, que – nos mares caóticos do mercantilismo e dos enriquecimentos fúteis – nos recupera a confiança e a convicção na meritocracia, no sacrifício em busca do ideal.

Não é o etanol que, a partir de hoje, marca a história dessa nossa região caipiracicabana. É Cesar Cielo Filho, que mostra como fazer-se campeão e herói, solitariamente, na destinação humana de ser, acima de ter. Piracicaba – tendo trocado a apologia da virtude pelo silêncio diante dos vícios – há que render graças a Cesar Cielo, o barbarense. Ave, Cesar. E obrigado.

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