Barjas, Febem, Unimep.

A Febem, em Piracicaba, conforme era absolutamente previsível, apresentou os primeiros problemas. Não adianta alterar o nome de uma estrutura, se esta permanece a mesma. Febem ou Casa, o sistema é superado, um depósito de menores que a sociedade paulista criou como remendo para um fracasso social lastimável. E a crise da Unimep agrava-se a cada dia que passa.

O que, nesse caso, a Febem e a Unimep têm em comum? Tem o prefeito Barjas Negri. Porque foi ele quem trouxe a Febem para Piracicaba, sendo, portanto, o criador e a gênese de tudo o que de ruim e de problemático surgir a partir daquela lamentável instituição que apenas agrava a trágica situação dos menores infratores em São Paulo. E, em relação à Unimep, Barjas Negri tem uma responsabilidade moral que, tivesse ele cuidado com sua própria biografia, o obrigaria a, especialmente agora como Prefeito, a tomar posições, semelhantes às que ele tomou como primeiro presidente da Adunimep (1977/79) e um de seus fundadores.

A carreira política de Barjas Negri começou como militante estudantil dentro da Unimep, lutando em favor dos que defendiam as liberdades, a autonomia universitária e, acima de tudo, a construção de uma universidade realmente digna e altiva como a Unimep foi até a chegada de Davi Barros. Barjas Negri esteve entre os que, liderados por Elias Boaventura, lutaram para evitar o que já se chamava de “mercantilização do ensino”, na gestão de Richard Edward Senn. E, em seguida e em continuação às crise, ele se posicionou entre os que lutaram e evitaram que grupos já com tendências pentecostais dos metodistas (liderados por Hélio Manfrinato e Abner Perpétuo) mantivessem o “golpe branco” que tentou mudar a gênese da Unimep. Hélio Manfrinato e Abner Perpétuo queriam que a universidade funcionasse como um colegião, tendo-se tornado famosa a frase de Manfrinato quando lhe diziam que ele pretendia que a universidade fosse uma fábrica: “Sim, uma fábrica. Mas nossa.”

O silêncio, hoje, de Barjas Negri, mais do que constrangedor, é revelador: ele, desde que se deixou seduzir pelo neoliberalismo e pela economia do mercado, não consegue ver, diante de si, nada além de resultados que lhe interessem, a velha tese de Maquiavel entre meios e fins. Barjas Negri, que trouxe a Febem para Piracicaba, mostra simpatias pela tirania imposta por Davi Barros na Unimep, como que aplaudindo a destruição de todo um patrimônio moral e cultural que, no passado, ele dizia defender. É verdade que o tempo muda as pessoas, que o tempo muda tudo. Mas o tempo não consegue mudar raízes, que morrem como raízes. Barjas Negri, com seu silêncio, confirma ser mutante, sem raízes, mais próximo aos caniços que se curvam conforme os ventos.

Mas é melhor assim. Hoje, diante do escândalo dos sanguessugas, das relações de Barjas Negri com empreiteiros, a sua participação não é boa companheira. Se Barjas simpatiza com a ação de Davi, tudo fica mais fácil de se entender. Mesmo porque a visão de ambos em relação à educação parece semelhante: Barjas foi buscar a Febem; Davi Barros quer transformar a universidade em escolinha de baixo custo.

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