Corrupção, conveniência e preferência.

Na CPI dos sanguessugas, o ex-diretor do Banco do Brasil confirmou que, no dossiê tão comentado à época das eleições, havia informações de que cheques foram enviados para pagamento de contas da campanha de José Serra ao governo de São Paulo. Tratava-se, segundo Expedito, de “transferências feitas por empresa de propriedade dos Vedoin, uma empresa de Ipatinga (MG) e outra de Governador Valadares(MG).

Conforme acentuou a Folha online, “Expedito, por sua vez, disse ainda que os cheques foram repassados a Abel Pereira, empresário de Piracicaba (SP), ligado ao ex-ministro da Saúde Barjas Negri, no governo Fernando Henrique Cardoso. O ex-diretor do BB afirmou que Abel Pereira “estava em Cuiabá na mesma época que nós estávamos e tive informações de que ele tentava comprar o silêncio dos Vedoin”.

Barjas Negri e Abel Pereira continuam na crista da onda de corrupção levantada em Brasília. A Agência Estado, ao se referir a ambos, destaca serem “amigbos há mais de 30 anos”. Mesmo assim, Abel nega contatos com Barjas, Barjas afirma que esteve apenas uma v ez com Abe em Brasília e, por aqui, a maioria das obras municipais são feitas por empresas de ou vinculadas a Abel Pereira, declaradamente um dos financiadores da campanha de Barjas Negri à Prefeitura Municipal.

Essas considerações servem apenas para uma reflexão: por que o silêncio de Piracicaba, tanto na Câmara Municipal quanto nos órgãos de comunicação onde abundam comentaristas, analistas, observadores, críticos, filas enormes de pessoas que escrevem sobre a corrupção nacional? É estranho, para não se dizer que farisaico: cronistas, colaboradores da imprensa, intelectuais e até poetas escrevem sobre denúncias de corrupção contra o governo de Lula. E, debaixo de seus narizes, na terra e na cidade onde moram, há denúncias graves envolvendo personalidades de alto coturno da cidade – e se faz silêncio.

As pessoas não moram no mundo, no país, no estado. Moram em sua cidade, em seu quarteirão. A corrupção municipal deveria, pois, interessar muito mais do que a corrupção nacional. E ainda mais quando ambas, corrupção nacional e municipal, se dão as mãos. De qualquer maneira, já se sabe que sempre foi mais fácil atirar pedras no telhado do vizinho. Ou, então, fingir que não se sabe das coisas. Mas é triste ver que a corrupção pode ser, também, uma questão de conveniência. Ou de preferência.

Estaria havendo uma “censura municipal”?

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