Cuba.

Uma das metáforas ainda mais adequadas para se refletir sobre o real e o verdadeiro continua sendo, penso eu, a dos quatro homens cegos que depararam com um elefante. Um dos cegos, tocando a pata do animal, pensou tratar-se de um tronco de árvore. O outro tocou a tromba, acreditando fosse uma mangueira. O terceiro, apalpando o rabo do elefante, acreditou fosse um chicote. E o quarto, batendo no corpo, achou ter batido numa parede. Eram partes que não revelaram o todo. Mas, se os cegos conversassem entre si, talvez pudessem ter uma ideia, avaliando cada parte tocada, do que fosse um elefante.

Parece que, com Cuba, esse processo simplista e minimizante continua ocorrendo. Sob a influência dos Estados Unidos, quase todos os países da América Latina imaginam Cuba como, apenas, um lugar de horror, sem liberdade, de miséria, de fome e de tirania, uma “revolução” fracassada. Com Fidel Castro prestes a completar 50 anos no poder, fala-se dele apenas como um tirano, um ditador, um louco com sonhos utópicos irrealizados, sem se lembrar, em nenhum momento, de Fidel Castro ter sido obrigado a cair nos braços da antiga União Soviética a partir das pressões e boicotes dos Estados Unidos.

Ora, não se trata mais de elogiar ou de denegrir, de aplaudir ou vaiar Cuba. Mas, agora, trata-se, na verdade, de reconhecer que aquele pequeno país – com uma população equivalente à da cidade de São Paulo – tem feito conquistas extraordinárias que merecerem respeito, mesmo que se denigram os meios. A Medicina cubana é uma realidade mundial; a extinção do analfabetismo também. E, em cada campeonato esportivo internacional – de Olimpíadas aos jogos Pan Americanos – a beleza, a força, a arte, a competência dos atletas cubanos encantam o mundo. Ou não tem nenhum significado que Cuba, novamente, se coloque como a segunda potência esportiva das Américas, exatamente depois dos Estados Unidos, o país que lidera o boicote mundial à pequenina ilha do Caribe?

Pode-se apostar que meios de comunicação afinados pela mesma cantilena haverão de dar destaque a alguns outros atletas e técnicos que se “exilaram”, como se tivesse pedido refúgio político e não, como ocorreu, contratos milionários com grupos capitalistas europeus. Ora, seria “exílio” da multidão de brasileiros – jogadores, atletas, cientistas – essa busca por novas oportunidades, por mais oportunidades, no cansaço de ver a corrupção minando todo o idealismo e sonho nacionais? Cuba encantou e merecem, seus atletas, o respeito e a admiração de todos. Até os quatro cegos da historieta sabem disso.

Quanto a se falar em democracia, Brasil e Estados Unidos não são países exemplares para tratarem disso. Pois não se fala de corda em casa de enforcado.

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