De novo, “pra frente, Brasil!”

Então, que se anote e registre: a indicação do Brasil para sede da Copa do Mundo de 2014 altera, de vez, o espírito nacional. Para melhor. E, com isso, mexe e remexe na economia, na política, nos costumes e, em especial, no orgulho nacional. Ora, o futebol – por muitos, ainda visto como simples jogo ou questão secundária – é uma das balizas da identidade nacional brasileira. Não há nada ou ninguém que consiga unir o país com tanto ardor, com tanta paixão e de forma quase que unânime.

A emoção do presidente Lula, ao receber a responsabilidade de prepara o país para agasalhar a Copa, é, antes de mais nada, a emoção do brasileiro, o orgulho de quem se sentiu reconhecido pelo mundo, o diploma de mérito. E, depois, o orgulho de assumir o comando, como presidente da República, de todo esse processo revolucionário.

Foi, pois, desencadeado um processo de revitalização da alma nacional. E, em meu entender, há dois grandes momentos – sem entrar no mérito deles e em suas conseqüências – que tiveram a força de produzir tal febre cívica, tal ardor patriótico que o Brasil se moveu, apesar de males, de desencontros e até mesmo de ditaduras. O primeiro, penso eu, foi a construção de Brasília, iniciado com a coragem de Juscelino em descer no cerrado goiano e dizer a frase profética e, por isso mesmo, imortal, ao inicio das obras, em 1956:

“Deste planalto central desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”

Quem viveu aquela saga sabe: o Brasil acordou, saiu do cochilo, moveu-se, movimentou o povo em todos os seus quadrantes, o fervor cívico, a “alvorada de fé” que revelou uma nação que se esquecera de si mesma. O que veio depois não invalidou a grande arrancada para o desenvolvimento, a fé e a confiança do povo em si mesmo. E um segundo momento – brilhantíssimo, mas de triste memória pelo preço pago à tirania – foi em 1970, o grande salto, o “Brasil Grande”, a Copa do Mundo, o tricampeonato, a unidade nacional conseguida através do futebol, sem que se soubesse o que havia nos subterrâneos dos palácios governamentais. Era o “Pra frente, Brasil”, infelizmente acompanhado pelo convite desavergonhado, que impedia a livre manifestação do pensamento: “Ame-o ou deixe-o”. Mas houve o frisson cívico, a consciência de grandeza.

Com a Copa de 2014, que as oposições medíocres se acautelem e tentem ser menos medíocres: o presidente Lula passa a ser o comandante de um exército civil de quase 200 milhões de pessoas, que passam a viver um sonho de grandeza, a expectativa do Grande Brasil, de novo. Se Napoleão disse, da China, que ela, “quando acordasse”, moveria o mundo, o mesmo já foi dito do Brasil: que ele moveria a América Latina. Quando o Brasil sonha, move-se; quando o Brasil abre os olhos, movimenta. Agora, sonha e abre os olhos ao mesmo tempo.

Aves agoureiras, parece, ficarão de quarentena. Tomara, apenas, que esse novo “pra frente, Brasil” não se erga sobre terra movediça.

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