De universidade a Imobiliária Metodista?

A Igreja Metodista, levada pelos desatinos de Davi Barros e seu grupo, pode estar mergulhando num novo mar de espertezas condenáveis a uma instituição religiosa que se diga séria e honesta. Trata-se, agora, da questão imobiliária em terras do Taquaral, contíguas às pertencentes à Mausa ou ao empresário Roberto Dedini. A nova atividade imobiliária da Igreja, da Universidade e do IEP se reveste de profundas e graves implicações de ordem moral, para não se abordar a legal, pois há razões de natureza e de origem que podem ser questionadas judicialmente.

As terras da Unimep são fruto de grandes e árduas conquistas em que a comunidade piracicabana participou, especialmente o espírito de piracicabanismo do Grupo Dedini. Desde a direção de Richard Edward Senn, aquelas propriedades tiveram uma destinação de alto valor social. Como que num passe de mágica, foram transferidas para a Igreja Metodista, havendo, em fases distintas, alterações, vendas, compras e recompras.

Na administração de Almir de Souza Maia, surgiu um lúcido e extraordinário projeto de desenvolvimento, em parceria exatamente com o empresário Roberto Dedini (Mausa), senhor de uma imensidão de terras também em toda aquela área. O projeto visava à criação de um grande condomínio – incluindo um centro de convenções, hotel de alta qualidade, etc. ­- em nível e espírito de Cidade Universitária. E o principal: o empreendimento objetivava criar fundos para investimentos em pesquisas da Unimep, uma fundação que pudesse manter e ampliar o desenvolvimento científico da universidade. Aquele projeto, sim, era digno do espírito de solidariedade e de participação da sociedade piracicabana em relação à grande obra dos metodistas que, com o povo de Piracicaba, construiu a universidade.

Agora, no entanto, desenha-se um novo golpe do baú, escandaloso pela amoralidade de que se reveste. O empreendimento é apenas imobiliário visando a obtenção de recursos para pagar dívidas da instituição, dívidas que foram contraídas, em grande parte, para auxiliar a manutenção da Igreja Metodista sob a forma eufemística de aluguéis, condomínios, etc.

Os abusos da atual administração do IEP/UNIMEP chegam, agora, à configuração de um verdadeiro golpe do baú. A Universidade foi destruída e se transforma, agora, num braço imobiliário, o que é imoral e desonesto, pois foge à natureza filantrópica da instituição, que é beneficiada por dispositivos legais. E o jabaculê começa a ser cada vez mais delineado quando se vê o secretário municipal João Chaddad pressionando e insistindo para se alterar o código de posturas do município para favorecer aquele empreendimento que, tendo natureza pública, passa a ser apenas do interesse mal definido de particulares. A Câmara Municipal não pode coonestar e legitimar um projeto suspeito e com objetivos que deturpam o sacrifício de toda uma comunidade – incluindo a da região – que ajudou a criar um templo, agora transformado em balcão de negócios. Beneficiar interesses privados não faz parte dos deveres e responsabilidade de um Poder Legislativo, a menos que se pretenda nivelar a tantas máfias já existentes por aí, como de ambulâncias, sanguessugas e outras atividades indignas de homens públicos.

A partir de agora, Piracicaba está nas mãos do Ministério Público. Há escândalos graves ocorrendo à sombra de políticos e de religiosos. Se o Ministério Público não se mostrar à altura de suas responsabilidades como guardião dos interesses do povo, esse escândalo passará à História como um terrível complô de instituições contra a boa fé e a confiança da sociedade. Com Davi Barros e a seita que ele representa, a UNIMEP está prestes a se transformar em antro de atividades suspeitas. De universidade à oportunística imobiliária, o trajeto é repulsivo e condenável. Especialmente por estar sob o patrocínio de uma igreja historicamente tão respeitável. Davi Barros se revela, cada vez mais, um esperto comerciante. Como educador, é bom negociante. De reitor a dirigente imobiliário, volta a espaços de onde não deveria ter saído.

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