Doçuras do dragão chinês

O tema central da abertura das Olimpíadas foi O Sonho. E a China mostrou, ao mundo, porque – na história da humanidade e no imaginário humano – foi e tem sido um país de magias. Pois, mais do que competência tecnológica e de organização, a China mostrou, ao mundo, que há um universo mágico com segredos que o Ocidente jamais haverá de desvendar. O Dragão Chinês – temido desde os tempos de Mao Tsetung, horrorizando pela chamada “revolução cultural” de tempos sombrios – revelou doçuras, ternura e delicadezas que deslumbraram o mundo como ainda nos deslumbram a suavidade da porcelana e do jade.

Acostumados, que estamos, a ver e a enxergar apenas com olhar materialista de tempos violentos e confusos, deslumbramo-nos com a alma poética dos chineses, revelada, novamente, ao mundo, quando se espanta, com a China, apenas e tolamente com seu espetacular desenvolvimento econômico. É preciso admitir que o Ocidente está desconfiado e temeroso, como se o Dragão fosse um polvo com mil tentáculos devoradores. Até pode ser essa uma de suas facetas, quando da competição segundo as regras capitalistas. Assustam-nos todas as dimensões chinesas, gigantescas até mesmo na poluição ambiental, na riqueza e na miséria. E, com esses sustos, temores e espantos, ignoramos ou fingimos ignorar a imensidão poética e cultural da alma chinesa.

Não importa tenha sido uma formidável estratégia de marketing o que os chineses apresentaram na abertura dos Jogos Olímpicos. Também foi. Mas apenas pôde ter sido por haver, antes, uma herança de beleza, de cultura, de civilidade que estavam ocultas sob a capa do Maoísmo ainda não esquecido pelo mundo ocidental. O culto ao belo foi confirmado por uma China que continua a povoar a imaginação e a fantasia do mundo ocidental, talvez renovando o mágico e o mitológico que nos atiçou sonhos desde as narrativas de Marco Pólo.

Há ainda um mistério chinês, ainda mais instigante quando não conseguimos entender o comunismo-capitalista, a democracia-comunista, o capitalismo-comunista, seja lá o que é essa experiência de regimes e de sistemas chineses. Que o Dragão é devorador, não se tem dúvida e sobre isso há receios. Mas que tem doçuras e belezas admiráveis, isso nos foi lembrado, de forma extraordinária, na abertura dos Jogos Olímpicos. Ocidente e Oriente têm um infinito de experiências para se trocar. Que a milenar sabedoria chinesa contribua para isso, é a esperança que se pode nutrir a partir de a China mostrar como a tecnologia pode, com humanismo, servir ao Sonho.

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