Elogio da esperteza.

Em outro comentário, abordamos o impacto causado pelo furto de gravatas de que foi acusado o Rabino Henry Sobel. A perplexidade coletiva dá a dimensão da estatura moral dessa autoridade eclesiástica, o rabino que tem sido ícone da moralidade e da ética em nosso País. Um deslize incompreensível – analisado como resultado de uso excessivo de medicamentos -abalou a estrutura emocional da nação, perplexa diante da possibilidade de lhe ter sido roubado um dos pilares da decência nacional, do que resta dela.

A lição que, diante do episódio, o Brasil aprendeu e demonstrou deveria repercutir mais intensamente em nossos homens públicos, especialmente nos que detêm cargos onde a responsabilidade moral é mais sensível, esses que assumem comando de instituições universitárias e também confessionais. Quando o religioso e o acadêmico se interligam, a sacralidade disso é abismante, pois são pilares que não podem ser estremecidos ou tomados por fendas. Quando eles se abalam, ruem-se edifícios morais, esses que sustentam a nação.

A grande tragédia da Unimep não está na paralisação apenas de uma universidade, em sua transformação em apenas mais um estabelecimento mercantil como tantos outros que existem por aí. A grande tragédia está no menosprezo à decência, à dignidade, no atropelo que Davi Barros – escandalosa e doloridamente apoiado por setores alienados de sua igreja – faz à retidão, à responsabilidade, ao respeito para com os outros. Davi Barros age como se estivesse dirigindo um clube de futebol no nível mais baixo de campeonatos suspeitos, naqueles onde, por exemplos, banqueiros do jogo de bicho são donos e dirigentes do time e das organizações. Não há mais respeito. O jogo de gato e rato é desprezível. E a mediocridade chega a um nível tal que parece ter-se tornado impossível um diálogo confiante e respeitoso entre as partes. Não é mais possível, nunca o foi nestes meses, pois Davi Barros usa de artimanhas, de artifícios condenáveis, de atitudes desrespeitosas.

Há uma fotografia, na imprensa local, altamente significativa do que Davi Barros entende por relações institucionais, por serviços culturais, por responsabilidade social. Lá está ele, com todo o seu staff, junto a políticos que têm sido notícia no Brasil inteiro por seu envolvimento em questões de altíssima corrupção. O templo do saber perdeu a capacidade de selecionar, de educar, de apontar caminhos. Abre-se a todos os ventos da esperteza. E a gloriosa Unimep, o Centro Cultura Martha Watts, a instituição educacional quase sesquicentenária ficam cabisbaixos, humilhados, como que rendidos a um destino infame a que mentalidades pequenas os levam.

Davi Barros está fazendo, orgulhosamente, o elogio da esperteza, o discurso do levar vantagem. A instituição a que foi levado dirigir, ele a transforma em simples organização. E organizações há em abundância neste país. Muitas delas suspeitas e condenáveis. Justamente por viverem de espertezas. A tragédia de Henry Sobel não serviu para Davi Barros. Afinal de contas, o deslize do rabino foi apenas com algumas gravatas. E, convenhamos, o que é isso diante dessas irregularidades à sombra da Igreja Metodista?

Nesta Semana Santa, o luto de Piracicaba aumenta de intensidade.

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