Esculacho institucional.

Então, um profissional liberal altamente qualificado me perguntou: “E o que você me diz dessa corrupção toda?” Olhei-o firmemente no olhos e foi a minha vez de perguntar: “De qual corrupção você fala? De Brasília ou de Piracicaba?” Ele desviou a conversa. Da mesma forma como empresários, jornalistas, homens de comunicação e políticos desviam e fogem, quando se fala de corrupção municipal. A corrupção nacional é mais fácil de ser comentada, porque falsamente distante. Parece que é em Brasília, apenas lá. Mas é um vírus que se espalha, que contamina e que desagrega.

Ora, mais outra vez aí está a internet mostrando todo o seu poder democrático, esse de por e colocar os fatos à disposição de todos, muitas vezes cruamente, outras vezes inadequadamente – mas como um instrumento novo de exercício de liberdade e de libertação aos que se julgam donos da opinião pública ou formadores dela. Hoje, quem está formando opinião não são mais jornalistas, intelectuais, professores, empresários, que se tornaram apenas parte dela. A opinião pública passa a ser formada pelo próprio povo, dono de sua própria indignação, ao contrário do que julgam muitos, que tratam eleitores e leitores como idiotas.

Essa foto da moça que, de maneira divertida ainda que de gosto duvidoso, provoca Renan Calheiros – “coma eu, Renan!” – é mais reveladora do que tudo o que escreveram editorialistas, do que manifestaram políticos de oposição e até mesmo fariseus da política brasileira. A moça aborda o que, por cumplicidade ou por telhados de vidro, os analistas não abordam: Renan Calheiros pagou a amante e manteve o filho nascido de relação extraconjugal com dinheiro que lhe teria sido fornecido por empreiteiros com obras no país. O que a moça da foto quis dizer é que, no vale tudo do Brasil, nada mais parece estar valendo nada. A pergunta é maliciosa, jocosa, mas com fundo de verdade indignada: se pode para a ex-amante de Renan Calheiros, por que não pode para quem esteja disponível?

A expressão absolutamente adequada para esse esculacho à dignidade outra vez solapada das instituições nacionais é milenarmente latina: “corruptio optimi péssima”, a corrupção do ótimo é péssima. E insistimos nisso também em Piracicaba. A corrupção está solta por aqui. Tão solta que há até anedotas macabras de velórios, onde espirituosos do humor-negro dizem haver “mais uma obra concluída”…

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