Identidade da Rua do Porto

Parece haver uma nova discussão em torno da Rua do Porto, além das de sempre, as destas últimas décadas que giraram em torno de preservação da identidade, da ambientação histórica, do aproveitamento turístico, da segurança aos freqüentadores. São estas, ainda, as prioridades, apesar de inovações e de uma reformulação até mesmo de conceitos que se impuseram ao local que, insistimos, é a “rua mãe” de Piracicaba.

No entanto, discute-se, agora, a Rua do Porto como um local turístico de altíssima, de primeiríssima qualidade. E isso a Rua do Porto não é, nunca foi e não poderá ser. É um lugar com características próprias, com a simplicidade de sua origem, que é a de pescadores, de escravos alforriados, de imigrantes italianos e alemães que criaram olarias e fizeram tijolos e telhas amassando barro. A Rua do Porto não é essa passagem entre bairros, passagem de automóveis, em que a transformaram. E não será, jamais, um centro turístico gastronômico dos chamados hotéis cinco estrelas, como muitos gastrônomos e especialistas em culinária pretendem, com seu saber mais acadêmico do que histórico.

É óbvio que a Rua do Porto tem que primar também pela higiene, pela qualidade do serviço e do atendimento. Isso diz respeito a qualquer restaurante ou bar de qualquer lugar do mundo, com pretensão a ser respeitado. Mas esses serviços e atendimentos civilizatórios básicos nada têm a ver com a verdadeira identidade da Rua do Porto, como prova os que tentaram inovações catastróficas como a, por exemplo, de criar, no local, um restaurante francês.

A Rua do Porto precisa, certamente, de uma curadoria especial e de uma valorização que uma os esforços de secretarias de cultura, de turismo, de esportes, de saúde, se estas realmente existirem. Ou se decide definitivamente dar estrutura à Rua do Porto por aquilo que ela é e significa – e não pelo que pretendem políticos e “novos” empresários do local – ou passamos a, melancolicamente, a cantar o réquiem de uma história que é o nascedouro da história de Piracicaba.

Os gerentes municipais não estão preparados para decisões que envolvem sensibilidade histórica, identidade e cultura. Pelo menos é o que demonstram até aqui.

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