Jornalão e gracinhas de Caetano

Com a consciência absolutamente tranqüila – embora sabendo e sentindo que corto na minha própria carne – passei a responder, quando me perguntam, que a imprensa brasileira – e me refiro aos chamados jornalões – deixou de ser uma das possíveis soluções para se transformar em parte do problema. Temo pelo pior. E o pior está nos sinais cada vez mais evidentes de desmoralização dos jornalões e revistas, vitimados por sua falta de sensibilidade e pela fuga à responsabilidade fundamental, que é a de serviço ao povo.

Antes, quando se falava de algum jornal menos sério, dizia-se que “papel aceita tudo”. E, cada vez mais nitidamente, percebe-se ser o que está ocorrendo. É como se houvesse um esforço conjuntural para a má informação, com a manipulação da notícia, a sonegação do acontecido, o favorecimento a este em prejuízo daquele, o alinhamento nem sempre sincero e honesto ao que não está esclarecido. A campanha da imprensa contra Lula beira a histeria e, também, ao ódio que transpira em cada página de jornal ou revista, misturando-se ao cheiro de tinta.

Faz parte da má informação o destaque malicioso que se dá a pessoas não qualificadas para tratar de alguns temas que lhes escapam à competência. A manipulação do entrevistado é cruel, mas acaba servindo para manipular a informação e desinformar o leitor. O caso do prêmio “Estadista do Ano” – que o Presidente Lula recebeu em Londres, de respeitável instituição inglesa – mais do que sintomático foi revelador. Não se deu qualquer destaque a um acontecimento de que o Brasil tem que se orgulhar. Mas qualquer fósforo aceso se torna fogueira quando se trata de ranger os dentes contra Lula. Os jornalões parecem ter optado pelo escândalo, pela ofensa gratuita, na visão rasteira da realidade de quem confunde o real e o verdadeiro com um “reality show” qualquer.

O “Estadão” – sem um mínimo de respeito ao leitor minimamente inteligente – divulgou, como uma de suas matérias principais, uma entrevista com o sempre gracioso Caetano Veloso que, com seus chiliques e ataques de nervos, costuma confundir filosofia com babaquice. Para o “Estadão”, Caetano Veloso se tornou assunto de primeira página, alto destaque, porque o cantor baiano defendendo a candidatura de Marina Silva justificou-se, ofendendo o Presidente da República: “ela é meio preta, é uma cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro.”

Há uma lei da comunicação que serve para o cotidiano de todos nós e, também, da imprensa. Quando alguém elogia ou ofende, a primeira pergunta que se deve fazer é: “quem é a pessoa que falou?”. Se é alguém que mereça respeito e cuja opinião tem importância, deve-se meditar sobre o que ela falou. Mas se a pessoa, como no caso de Caetano Veloso, não tem qualificação para opinar sobre questões sérias, fazendo gradinhas e gracejos, não deve merecer atenção. Os jornalões e revistonas estão usando um outro critério: divulgar tudo contra Lula, pouco importa seja verdade, seja respeitável quem o afirme. E sonegar tudo o que seja a favor.

A imprensa está cometendo suicídio, não percebendo que o jornalismo impresso já está moribundo. E o mais trágico é que, com a queda cada vez mais vigorosa das tiragens, os jornalões estão falando de si para si mesmos. Em poucos anos, será interessante observar quem será o último sobrevivente, para apagar a luz.

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