Jovens com causa.

Um dos graves equívocos de analistas sociais e de comunicadores está na falsa crença de que a juventude brasileira, hoje, é alienada, desmotivada, sem diretrizes. Uma pesquisa, reservada aos meios de comunicação em 2005, revelou um perfil alentador da juventude atual, formada, em sua esmagadora maioria, por moças e rapazes lutadores, em busca de espaços, preparando seus caminhos, buscando o conhecimento. Os chamados “baladeiros” – expressão nem sempre justa para os que mais se divertem – formariam apenas 7% dessa juventude, ainda que impressionem por sua mobilidade e presença nos meios de comunicação.

Nas décadas de 1950/60, dizia-se de “juventude transviada”, da mesma forma como nas de 1920/30 foi a “geração perdida”. Com o baixar da poeira, descobriu-se que eram, na verdade, gerações rebeldes e “rebeldes com causa”. Havia muito pelo que lutar em busca de liberdades, de direitos, de justiça. E barreiras caíram e conquistas aconteceram, ainda que com os excessos e com equívocos em relação à própria liberdade. Mas não se “faz omelete sem quebrar ovos.” E o preço pago pelos abusos e desrespeitos doeu na carne dos que se contentaram em ser apenas iconoclastas, esquecidos das causas.

Quando, pois, se diz de uma juventude, a atual, alienada, há enganos vitais. É uma juventude diferente, formada a partir de outros referenciais que, no entanto, não destruíram, conforme pensam apressadamente alguns, princípios inalienáveis do ser humano. Se se mudam alguns valores, há princípios eternos: liberdade, família, fraternidade, direito, justiça. Se o jovem, hoje, está “navegando nas ondas da internet” isso não pode ser banalizado, tomando-se como referência os jovens que, antes, “navegavam nas ondas de Jean Paul Sartre”. Até mesmo a forma de raciocínio se alterou. E, também, o aprendizado. No entanto, sonhos, ideais, esperanças ainda permanecem. É preciso ter olhos de ver, ouvidos de ouvir. E inteligência de entender. Pois os jovens estão mostrando, falando e dando-se a conhecer.

Ora, nada mais exemplar para esse entendimento do que começa a ocorrer na Unimep, com a juventude universitária estudantil mobilizando-se, levantando-se, protestando. E não é mobilização inconseqüente, mais uma daquelas boas “estudantadas” de todos os tempos. Pelo contrário, é uma reação em favor da dignidade universitária e, em especial, da legalidade institucional. Os moços não podem redução de mensalidades, não pedem favores, não pedem concessões. Pedem respeito à lei, respeito à ordem institucional da Unimep, respeito a uma longa história que eles conhecem de ouvir, de ver e, agora, de sentir e de participar.

Quando Davi Barros decretou o recesso de aulas em pleno fim de ano, ele pensou pudesse, com a errada tática de uma estratégia equivocada, livrar-se da participação da juventude universitária. Pensou fosse conseguir tempo para consolidar seu “novo modelo de universidade”, mercantilista e totalitário. Enganou-se. A reação foi maciça. E, agora, após decisões claras do Mec e da Justiça, são os jovens que gritam e exigem: “Legalidade já.”

Não há tirania que resista ao grito honesto, ao brado honrado, à reação idealística de jovens com causa. Na Unimep, eles dão esse testemunho. E as gerações mais velhas podem pedir desculpas por seu próprio desalento e desengano. Causas dignas não cobram idade. Está faltando, pelo que parece, adultos com causas idealísticas.

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