Liberdade e ditadura da imprensa.

Uma nova discussão parece travar-se entre não apenas políticos, mas parte da sociedade, e a imprensa brasileira. A grande questão volta a ser a da liberdade da imprensa que, na realidade, deve ser a mesma de todos os cidadãos: a liberdade de ter opinião, de poder expressá-la, bem como a plena liberdade de pensamento. Os tempos, no entanto, são apressados. E, de repente, ao mesmo tempo em que se relativiza tudo, tenta-se valorar de forma absoluta algumas conveniências.

A liberdade de cidadãos e de instituições não é absoluta, pois tornada finita pela lei. Há apenas uma que é plena, ampla e total: a liberdade de pensamento. Já a de opinião e de manifestação está limitada, no mínimo, pela ordem legal e pelo direito de terceiros. Ora, pode-se pensar tudo; mas nem sempre o que se pensa pode ser manifestado. Pois, ao lado da liberdade, há a responsabilidade de quem a exerce. Responsabilidade é responder, assumir. Logo, a imprensa não tem e nunca teve liberdade absoluta de opinião e de manifestação de pensamento. Está, também, subordinada a condicionantes legais e morais.

Quando Lula e alguns homens públicos falam de uma “ditadura da imprensa”, a expressão pode não ser a mais exata ou a mais correta. No entanto, não deixa de repercutir o que vai na alma e no pensamento de grandes setores da população, os mais conscientes, assustados e preocupados com caminhos e descaminhos da grande maioria dos órgão de imprensa nacionais, que parecem encantados com a linha dos “tablóides” ingleses, preocupados com escândalos de cada dia, com violações de privacidade, com desrespeitos a direitos mínimos de cidadãos. A imprensa não pode tudo. Nem tem direito a tudo – digo-o como um dos mais antigos militantes da imprensa deste País, que a exerceu em períodos de plena liberdade democrática mas, também, sob o jugo de tiranos e tiranetes, estaduais, federais e municipais.

A Internet está provocando a mais profunda revolução democrática deste País, que é justamente a democratização da informação. Pois é preciso enfatizar com todas as letras e, também, com todas as forças dos pulmões: a informação tem sido manipulada, muitas vezes sonegada e, quase sempre distorcida, por essa palavra tola, imitativa, que todos pronunciam: a tal mídia. Até a palavra “mídia” é equivocada, pois se trata apenas da pronúncia, em inglês, da palavra latina media, plural de medium. Ironicamente, a mídia, pronúncia inglesa, é a média latina…

A imprensa teima em dizer-se objetiva, imparcial e livre. Não é. Melhor diria e se definiria se se dissesse apenas honesta. E essa honestidade iria leva-la a assumir suas tendências, preferências, ideologias. Nada há de errado em um jornal dizer-se parte de uma das tendências sócias e políticas, bastando apenas que seja honesto. É impossível não ser parte do fato social. O terrível é a desonestidade na informação, não a sua interpretação ideológica. Um jornal comunista fará a análise do fato conforme o espectro ideológico em que está inserido. O mesmo fato poderá ser analisado, de forma diferente, pelo espectro, por exemplo, capitalista. Mas o fato é o mesmo.

A Internet já democratiza os meios de comunicação e a informação pelo simples fato de, a partir de agora, pessoas e grupos não mais necessitarem da boa vontade de donos de jornais, nem dependerem de suas idiossincrasias, para manifestarem seus pontos de vista e, muitas vezes, fazerem suas defesas. Redações há que sonegam informações, que têm listas negras de assuntos e de pessoas que não podem ser citados. Ignoram-se, muitas vezes, corrupções municipais, dando-se ênfase às federais, como se houvesse um nível geográfico para se estabelecer o que é ou não é corrupto.

Não é verdade haja uma ditadura da imprensa, da mesma forma que não é verdade estejamos tendo, no geral, uma imprensa verdadeiramente honesta. Há comprometimentos sérios e graves. Que, portanto, deturpam e mascaram a informação. E o povo tem direito à informação honesta, pois se tornará vítima muito mais da má informação do que a desinformação.

Liberdade não é um bem assim tão absolutamente simples para ser dissertado penas epidermicamente. Todos concordamos que seja um bem supremo, mas as discordâncias sobre isso serão sempre mais profundas. Liberdade social é a grande busca da civilização. E isso exclui a liberdade em benefício de alguns.

Ditadura se há, é a de certos proprietários de veículos de comunicação. Mas isso se desmoraliza por si mesmo, por frágil e ridículo.

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