Liberdade religiosa e igrejas de mercado.

Diante de proliferação das chamadas “igrejas de mercado” – que se infiltram, na esfera civil, nas mais diversas áreas de atividades do país, incluindo a universitária – faz-se urgente uma mais esclarecedora definição do conceito de “liberdade religiosa” sob o amparo constitucional. Ora, liberdade religiosa é um dos postulados sagrados de qualquer nação civilizada e ciosa dos valores democráticos. No entanto, não pode ser entendida como liberdade para a formação de grupos de pressão, de instituições empresariais, de exploração da boa fé do povo e manipulação ideológica de pessoas humildes. Muito menos essa “liberdade religiosa” pode ser entendida como aval para que as chamadas igrejas de mercado se transformem em organizações, muitas delas poderosas, sectárias que visem a pressionar a sociedade e as instituições brasileiras, a desafiar valores e a superar os limites da lei.

A Igreja Universal, em nome dessa mal definida “liberdade religiosa”, transformou o seu “bispo”, Edir Macedo, num dos empresários mais poderosos do país, com alto poder de manipulação da opinião pública, dada a sua rede de empresas de comunicação. Na verdade, Edir Macedo foi quem transformou a “sua igreja” na fonte principal de seu poder, em poucas décadas onde foram muitas as denúncias, os escândalos e, também, as omissões das autoridades brasileiras.

Agora, essa mesma Igreja Universal, como tem sido denunciado em todo o país, pressiona meios de comunicação com artifícios jurídico-processuais que denotam um espírito de malandragem, de abuso da lei, em nome de uma falsa defesa de direitos pretensamente atingidos. Os abusos de tais “igrejas” são escandalosos. E eles se espraiam, criando poderes paralelos como as chamadas “bancadas evangélicas” em Câmaras Municipais, em Assembléias Legislativas, no Congresso Nacional.

Ora, a liberdade não pode ser um instrumento suicida da nação. Se há uma liberdade religiosa, ela não implica em permissão para que, em nome dela, igrejas de mercado deturpem ou corrompam processos político-eleitorais, criem instituições fantasmas para ludibriar a legislação, imponham dogmatismos que violam o próprio princípio da liberdade. Ou seja: a liberdade religiosa não pode ser instrumento para igrejas do mercado afrontarem as demais liberdades constitucionais.

Em Piracicaba, já vimos a conseqüênca política – na deturpação da vontade popular – com a participação orquestrada de “igrejas do mercado” no processo eleitoral que culminou com a eleição de Barjas Negri. Um pastor foi claro, ufanista e simples ao afirmar que “fez negócio com Thame e o PSDB, e deu 50 mil votos para Barjas Negri”. Qual negócio, como, quanto, o quê? Incrivelmente, o Ministério Público não se movimentou para discutir a legitimidade daquela eleição, evidentemente corrompida pela confissão pública do dito pastor evangélico.

Neste ano eleitoral, candidatos e partidos começam, já, a “negociar” apoio das “igrejas de mercado” que, por serem de mercado, têm o seu preço. Isso não é democracia. Como não é democracia e nem constitucional uma ala de “igreja de mercado” assumir o comando de uma universidade, como ocorre com a Unimep, desfigurando a sua finalidade acadêmica e aproveitando-se de benefícios legais para alimentar sectarismos e proteger financeiramente apaniguados.

Essa falsa liberdade religiosa está virando caso de Polícia.

 

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