Lula e sabedoria.

Certamente, haverá quem – os de sempre, aliás – procure e encontre pedregulhos na entrevista concedida pelo Presidente Lula ao “Estadão”. A má vontade e o preconceito contra o Presidente da República continuam intensos, nos mesmos setores e áreas, de pessoas que nem sempre sequer sabem os porquês de criticar ou desgostarem. A imagem do Lula sindicalista, líder operário, homem sem grande cultura ainda permanece, impedindo que se reconheça o crescimento espiritual do Presidente, a experiência acumulada e, agora, largos traços de sabedoria que lhe vêm com a idade e com o que o cargo de chefe da Nação e do Estado.

Uma leitura isenta da entrevista do Presidente Lula mostra, antes de mais nada, um homem compromissado, sim, com o povo, apesar de todos os pesares ocorridos em seu governo e do fato, poir ele próprio reconhecido, de a política ser, também, essa arte de engolir sapos, especialmente no imenso pantanal político-partidário brasileiro. A entrevista tem a profundidade das coisas simples, pois o simples da vida e das coisas é o que existe de mais complexo. Lula consegue explicar, com clareza própria de quem se acostumou a falar com o povo, o que ocorreu e o que está ocorrendo no Brasil. E coloca o dedo na grande ferida que, para ele, foi, também, o encontro da grande solução: Lula aquietou e tranqüilizou a classe média para poder cuidar o povo miserável, dessas multidões que têm sido destinadas à pobreza como se isso fosse um destino. Ora, destino não é, mas se transformou no testemunho mais vivo da injustiça genética deste país.

Convenhamos: de que podem se queixar ou reclamar os salões da Corte? Como negar tenha e esteja, o Brasil, dando novos arranques, rompendo velhas barreiras? Os que freqüentam a revista “Caras” – e parece que toda cidade média brasileira inventou de ter a sua própria “Caras” paroquial – freqüentam apenas a si mesmos: os mesmos clubes, os mesmos restaurantes, as mesmas praias, os mesmos hotéis. Não sabem sequer onde fica o bairro mais próximo ou como o povo se comporta nas feiras. Povo – e aqui mesmo em Piracicaba, uma secretária do governo municipal ousou dizê-lo – incomoda os que se banqueteiam nos palácios. E a sabedoria de Lula – conforme ele próprio revelou nessa entrevista que se pode tomar como exemplar – está em priorizar os desvalidos sem enfraquecer poderosos e a classe média em seus diversos estágios.

O Brasil novo está acontecendo no Nordeste, no Norte, nos que foram chamados grotões de pobreza do Brasil. Infelizmente, São Paulo continua a cometer o erro de sempre, erro histórico, que pode ser o início de uma decadência, senão econômica, moral e cultural: São Paulo insiste em olhar apenas para o próprio umbigo, como se fosse o próprio Brasil. Mas não é. São Paulo é um país do Primeiro Mundo encravado no Terceiro Mundo. No Brasil, há muitos países. E a responsabilidade paulista seria a de diminuir o fosso entre eles. Lula está fazendo, sim. Por isso, é amado pelo povo. Ainda que odiado pela Corte.

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