Material barato e vidas humanas.

Se dúvida ainda havia, por pequena fosse, quanto à irresponsabilidade em praticamente todos os setores da vida brasileira, deve ter-se dissipado com a confissão das maiores empreiteiras do Brasil – no Consórcio Via Amarela – de terem usado “material mais barato” nas obras do Metrô de São Paulo, onde ocorreu a tragédia do túnel.

Há reflexões inevitáveis. E algumas conclusões, pelo menos parciais, também. Uma reflexão, de um pequeno empreiteiro, por exemplo: “Se os grandes e poderosos podem, por que eu não posso?” O poder, no caso, é fraudar, cometer crimes, incluindo os que colocam em risco vidas humanas. Aliás, qual é mesmo o valor da vida humana no Brasil de quase todos os tempos? E uma outra reflexão, de um empreiteiro médio, talvez: “Se para os grandes não acontece nada, comigo também não haverá de acontecer, desde que eu tenha padrinhos políticos.”

Uma outra reflexão, no entanto, pode servir a qualquer cidadão com consciência crítica: “Se isso acontece com as grandes empresas nas grandes cidades, metrópoles e sob as vistas da grande imprensa, o que não estaria acontecendo nas médias cidades, com médios empreiteiros, médios políticos e uma também média imprensa?” Pois, além da reflexão, quem viveu um pouco sabe o que se esconde por trás de obras públicas, basta ver o escândalo envolvendo a Cicat e empresas afiliadas em Piracicaba. Aliás – e é isso que mais nos interessa – foi um engenheiro da própria Cicat quem revelou, a A PROVÍNCIA, quando jornal impresso, que “asfaltamento de cidades é uma questão política”. E explicou: prefeitos queriam quantidade, não qualidade, com a aceitação das empreiteiras e, segundo o engenheiro, da própria Cicat.

Brinca-se com vidas, brinca-se com o sagrado, brinca-se também com a paciência do povo. Até que, um dia, a casa cai. Apenas resta esperar o quando.

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