Na Unimep, o ovo da serpente.

Um dos traços determinantes da personalidade da UNIMEP foi a sua intransigência exemplar, modelar diante de toda e qualquer forma de arbitrariedade, a qualquer arranhão ao espírito e às liberdades democráticas. Sendo confessional, nunca se aprisionou a dogmas, revelando a universalidade característica e fundamental das instituições de ensino superior. Na historia do Brasil, a UNIMEP está inscrita – queiram ou não Davi Barros e seus companheiros de triste e lastimável jornada – como uma das mais heróicas trincheiras no enfrentamento à ditadura e em favor da redemocratização do País. Davi Barros, com certeza, não se lembra ou não quer lembrar-se disso, por seu espírito egocêntrico e seu personalismo freudiano.

Por isso, quando se vê a sanha fundamentalista que solapa os alicerces da UNIMEP – visando a transformá-la num escolinha qualquer de mercado – a lamentação tem que clamar aos céus, pois são valores e princípios intocáveis que se conspurcam como as velhas damas que se oferecem aos melhores preços e às melhores ofertas. Não há meias palavras a serem usadas: a UNIMEP de Davi Barros está em processo de prostituição em relação a princípios, a valores e até mesmo aos ideais de uma antiga e respeitável Igreja Metodista. O doloroso é constatar que o ovo dessa nova serpente está sendo gerado no seio de um honrado e secular metodismo, cuja história está também nas raízes republicanas de Piracicaba.

As questões, quando se tornam dogmáticas, repelem argumentos racionais. É do dogmatismo que surge o ovo da serpente. Basta refletir sobre o ovo e os escolásticos, o ovo e a galinha. Um escolástico concluiu: “o ovo está na galinha, a galinha está no ovo”. Assim, também, com a serpente: “o ovo está na serpente, a serpente está no ovo.” Há, pois, que se temer quando, em nome de “construir uma nova universidade”, alimentam-se ódios, separações, conflitos.

Ora, a guinada metodista para o fundamentalismo apontou, desde o início, perigos que haveriam de se refletir sobre a UNIMEP, ainda mais quando comandada por uma figura conhecida por seu radicalismo e visão estreita como Davi Barros. Aliás, antes de ele assumir, cumprindo o que manda a ética jornalística, dei-lhe um voto de confiança, na expectativa de que, como “pamonheiro de Piracicaba”,ele respeitasse e zelasse por um patrimônio que é especialmente nosso, piracicabano, muito antes de ser de fanáticos fundamentalistas. Foi, no entanto, apenas o “modus” jornalístico de não julgar antes de acontecer. Mas há um histórico de Davi Barros, em sua caminhada universitária e mesmo eclesial, que permitiam prever essa hecatombe, os interesses subalternos e os jogos obscuros.

Não sendo inexperiente, sei do risco de patrulhamentos, da facilidade com que se transformam análises e críticas em ódios. Um cronista de jornal é como o escrivão e o escrevente, registrando o cotidiano numa escritura que sirva apenas para documentar, se para mais nada servir. Há algo de profetismo nisso, no sentido de ver antes, de enxergar entre névoas. Então, o escrevinhador se assemelha ao velho índio que vê a nuvem no céu e prevê chuva e relâmpagos.

Há sinais claros, claríssimos nos céus da UNIMEP e do Metodismo, sons nos espaços. A galinha canta quando põe o ovo. Pode ser um cacarejar tímido, mas é anunciador. Ela sabe que o ovo já contém vida. É símbolo, representação da vida. Assim , também, a serpente, como foi a do nazismo, de racismos, de ódios e de preconceitos. Antes de mostrarem a face pérfida, ciciaram, sibilaram, sussurraram, mentiram, simularam.

Davi Barros e seus seguidores não têm o direito de usar de uma instituição filantrópica para delírios e fanatismos religiosos sob a proteção da República. O Estado é laico. As religiões têm seus direitos assegurados para se manifestarem e serem exercidas. No entanto, não podem afrontar o sistema e o regime republicanos. Se a UNIMEP é uma instituição filantrópica, está recebendo benefícios legais do Governo da República e, portanto, do povo como um todo. Por isso, não pode ser pano de fundo – ou, para usar expressão tão em voga, lavanderia – para proteger grupos religiosos e seus protegidos. Quando Davi Barros, para selecionar um

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