O anacrônico “go home”.

Houve, na visita de George W.Bush ao Brasil, sensações e cheiros de “revivals”. De um lado, os EUA despertando, com muito atraso, para a velha política da “boa vizinhança” que, se não trouxe grandes benefícios ao Brasil, criou, pelo menos, o Zé Carioca de Walt Disney. E, de outro lado, como “revival”, os mesmos procedimentos superados, antigos e inúteis de pequenas turbas berrando o também ultrapassado “go home, yankee”. Não há mais isolacionismos. E a política externa de Lula/Celso Amorim, ainda que aborreça a interesses de grupos setorizados, está adequada aos novos tempos: economia e ideologia não combinam entre si. Ou, em resumo e como já se dizia desde Adam Smith: “lucro não tem pátria.”

Ora, um dos sinais mais evidentes e melancólicos de como o Brasil, paquiderme esparramado no “berço esplêndido”, continua recusando-se a romper barreiras de preconceitos e de atrasos, um dos sinais é esse apego a xenofobias tardias e retrógradas. Entre políticos e grupos ideológicos, há quem consiga, ainda, cultuar Mao Tse Tung, mesmo sabendo do passo de gigante dado pela China numa fusão ainda mal entendida entre capitalismo e socialismo. Quando um Hugo Chavez berra ordens do dia que lembram os anos 1950, não há como deixar de, a partir dele, pensar em figuras marcantes, mas superadas, como Getulio Vargas, Leonel Brizola, o próprio Fidel Casto. Como negar que foram líderes e heróis em sua época? Foram. Mas o discurso de então é absolutamente extemporâneo e sem sentido hoje.

A política externa do governo Bush atende a interesses estadunidenses e de grupos que, também lá, controlam o poder. Guardadas as proporções, é exatamente como aqui e como Lula também o faz. Governantes defendem interesses nacionais, sejam ou não de grupos, mesmo porque grupos nacionais se unem para não serem esmagados pelos transnacionais.

O “go home, yankee” soa tão antiquado que faz lembrar os militares brasileiros de 1964, Lyndon Johnson, Ronald Reagan, como se a história tivesse parado no Brasil. A guerra do Iraque não é um equívoco dos EUA, como também não foi, para eles, equivocada a guerra do Vietnã, da Coréia e tantas outras. Guerras são parte da visão imperial dos Estados Unidos, como o também são de potências como a Rússia, como foram a União Soviética e a Alemanha com alma de Germânia. Aqui mesmo no Brasil, nos idos dos 1950 e em pleno governo de Juscelino Kubitschek, éramos apanhados pelo pragmatismo do governo dos EUA que nos avisava, numa objetividade própria da “realpolitik”, o realismo da política internacional: “os países têm interesses, não amizade.”

Lula está revelando alvissareira maturidade mais ideológica do que política. E se, nas ruas, a gente do MST, do PT radical, do PCB gritam o anacrônico “go home, yankee”, Lula quer alianças, que os Estados Unidos se aproximem, que os interesses se encontrem. Os urros de Hugo Chavez soam dissonantes nos novos tempos de um mundo que, dizendo-se globalizado, é, na realidade, uma soma de cavernas com características próprias que aprendem a se respeitar entre si. Como tribos que, para não desaparecem, evitam a guerra.

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