O discurso de Obama

No final dos 1950 – já em plena chamada “Guerra Fria”, entre União Soviética e Estados Unidos – um professor, na Faculdade de Direito de Campinas, profetizava-nos: “Dia chegará em que os EUA serão socialistas e a URSS, capitalista.” Parecia um absurdo ou simples especulação sem conseqüência.

Na última 5ª.feira, na convenção do Partido Democrata, nos EUA, o presidente Barack Obama – confirmando a sua indicação para disputar a reeleição – fez um pronunciamento de tal forma voltado às questões sociais que pareceu confirmar a previsão do prof.Dalmo Fairbanks de Matos, naqueles distantes 1950. Pois Obama – com um magnetismo invejável e como que transpirando sinceridade – pareceu ter dado munição aos radicais do Partido Republicano que, durante todo o seu governo, o tachavam de comunista e de socialista. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Mas Barack Obama revelou uma honestidade de propósitos realmente revolucionária especialmente para a mentalidade direitista de importantes setores estadunidenses. Suas palavras foram dedicadas aos mais pobres, à classe média desassistida, aos menos protegidos, em oposição aos poderosos da indústria petrolífera de Wall Street.

Foi uma peça oratória –e uma proposta de governo – realmente dignas de um líder esclarecido e carismático. Estabeleceu-se, assim, de maneira inequívoca, a diferença essencial entre os dois candidatos, Obama e Mit Romney: de um lado, o enfrentamento aos absurdos privilégios de uma elite econômica minoritária e, de outro, o protecionismo aos detentores das grandes fortunas. Foram postas, pois, as cartas de um jogo político que marcará o destino dos Estados Unidos, com todas as repercussões e influências sobre as demais nações do mundo.

Na verdade, Barack Obama deu aquilo que tem sido buscado e perseguido por todos os pensadores políticos mais esclarecidos: a humanização do capitalismo. Pois é absolutamente impossível se entender como um país poderoso e uma nação que tão profundamente marca a civilização ocidental possam abrigar pensamentos cruelmente materialistas como os que animam grandes setores do Partido Republicano. Num mundo em crise, com a própria democracia ameaçada pela fragilidade das instituições em promover a justiça social, não é admissível conceber que grupos poderosos queriam sacrificar os mais pobres para proteger os mais ricos. Os radicais dos republicanos nada mais fazem do que dar outra forma e outra cara a muitas das idéias e propósitos dos fascistas de tão triste memória.

É um país estranho. Com diferenças abissais e como que irreconciliáveis. No entanto, Barack Obama, em seu discurso – no qual brilharam a sinceridade e o humanismo – apontou um caminho surpreendente para a realidade dos EUA e, também, do mundo: a humanização do capitalismo. Se a isso se der o nome de socialismo, que, então, assim seja. A humanidade agradece.

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