O FEBEAPI oficializado.

Ao início da movimentação esdrúxula, tivemos oportunidade de observar que há muitos – mas muitos anos mesmo! – não se via, em Piracicaba, uma tolice tão grande como essa promoção de marketing inicialmente radiofônico, depois engrossada pelo chamado “jornalismo escrito”, para o povo escolher as “7 Maravilhas de Piracicaba”. A falta de imaginação e o oportunismo foram tantos que tudo se fez à sombra e na cola da campanha, também apenas promocional, de se escolher as “novas 7 Maravilhas” do mundo. O critério foi também o mesmo: não haver critério.

No tempo da ditadura militar, escrevemos antes, O Pasquim inspirou jornais do interior, como O Diário, em Piracicaba, a driblar a censura. Antes, Stanislaw Ponte Preta, o grande Sérgio Porto, inventara o FEBEABA, o saudoso – que tanta falta faz ainda hoje – Festival da Besteira que Assola o País. Em plena ditadura, criamos o FEBEAPI, Festival de Besteira que Assola Piracicaba. E a dificuldade estava em escolher a besteira mais gritante. Hoje, o FEBEAPI daria, facilmente, o prêmio a essa bobagem de provocar parte da população a opinar sobre o que mal conhece. Pois a pergunta verdadeira deveria ser: quem conhece Piracicaba para falar de suas belezas, quase todas elas ocultas ou atropeladas?

O resultado (sic) do tal concurso foi, em parte, de uma obviedade esperada – a indicação da eterna ESALQ e a lembrança do quase moribundo Mirante, moribundo pelo desleixo oficial – e de surpresas risíveis, que permitem ilações interessantíssimas mas também significativas: o que tem o Teatro Municipal tão especial assim para ser tido como maravilha se, apenas como exemplo, o Teatro da Unimep é de nível superior em todos os sentidos? Ou seria para colocar em destaque o nome do teatro? E a Rua do Porto, escolhida enquanto pede socorro diante da violência e da insegurança?

A besteira maior se completou com o eterno e sovado oportunismo do ainda prefeito Barjas Negri que, em seus lances antigos de marqueteiro, aproveitou-se do embalo do FEBEAPI e aumentou a dose de maneira cavalar: irá oficializar o besteirol. Só falta, agora, a secretaria de Turismo de Piracicaba fazer a promoção de uma cidade cujas maravilhas são escolhidas de maneira tão simplória e boba: “Visite Piracicaba, veja o abandono do Mirante, a insegurança da Rua do Porto e espie o Teatro.” E fim de passeio.

E pensar que Piracicaba tem mil maravilhas ocultas, abandonadas, desconhecidas. Quem sabe onde e como é o Tancuã, Tanquã? E as ruínas, a paisagem de Monte Alegre? E o interior da Igreja dos Frades? E o portal do Cemitério? E as obras arquitetônicas em túmulos e mausoléus? E a eloqüência simples e silenciosa da Casa do Povoador? E a cascatinha do Pisca, na ESALQ? E a paisagem abandonada da Teixeirada? E as ilhas dos Amores, incluindo o próprio Museu D´Água, e o Palacete Boyes – com seus significados históricos a lhes emoldurar toda uma estética? Oficializar algo sem qualquer sentido é dar sentido à besteira. De quem a cometeu e de quem a referenda.

Piracicaba está vivendo seus tempos de farra do boi. Que é divertida, mas que não deixa de ser um grande besteirol. O FEBEAPI renasceu.

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