O gesto e a palavra.

O farisaismo na imprensa brasileira, a que compactua com grupos políticos e econômicos em oposição ao governo Lula, chegou ao limite do ridículo. É como se jornais, especialmente estes, não percebessem que, na realidade, estão falando “de si entre si”, uns para os outros, nos mesmos grupos. Aliás, ocorre o mesmo em Piracicaba, onde certa imprensa – incluindo, até, imitações provincianas da revista “Caras” – repete as mesmas coisas para as mesmas pessoas, um grupo sendo porta-voz de si para si mesmo.

A tragédia com o avião da TAM se tornou tragédia anunciada. E foi, como é e como são anunciadas as tragédias na saúde, na educação, na habitação, na segurança e, também, a tragédia do caráter nacional. São tragédias que nos apanham por irresponsabilidades, corrupções e mentiras que se acumulam há décadas, não por responsabilidade única de Lula. Erros e falhas e desacertos do Presidente Lula existem, sim. Especialmente o de muita ingenuidade na análise de acontecimentos e, também, ingenuidade ao ter acreditado que, por boa vontade e sensibilidade – além de amparado por um povo que ele realmente ama – pudesse resolver questões com vícios estruturais. O tempo mostrou que não é assim. Mas tem mostrado, por outro viés, que Lula é mais do que um simples líder de massas: é um estadista em um novo estilo, estadista a partir da simplicidade das pessoas simples que passam a ter visão universal a partir do próprio sofrimento. E é isso: ninguém pode ser universal se não conhecer a sua própria aldeia. Ninguém pode ser humano se não tiver vivido a sua própria humanidade. Lula é assim.

Ora, o farisaismo brasileiro, na imprensa e entre os que se julgam elite apenas por contas bancárias folgadas, praticamente deixou as causas reais da tragédia da TAM e de outras tragédias para se apoiar em duas situações lamentáveis: as palavras de Martha Suplicy, o “relaxa e goza”; o gesto do ministro Marco Aurélio Garcia, do “top top”. Há, porém, considerações a fazer, hipocrisias a desvendar e pingos a se colocarem nos devidos iis. Apenas para refletir: o que mais tem brilhado nos programas de televisão no Brasil e nos salões sociais, senão as grosserias, o humor rústico, gestos e palavrões que são parte até mesmo das socialites brasileiras?

Voltando, porém, aos assessores de Lula, o gesto e a palavra. Parece-me que não resta qualquer dúvida de que foi absolutamente infeliz, leviana e grosseira, inoportuna e extemporânea a manifestação de Martha Suplicy, o “relaxa e goza”. Até no cotidiano, uma mulher com o refinamento social e cultural de Martha não poderia ter-se expressado, de público, daquela forma. Seria grosseiro até mesmo em grupos fechados. Martha vulgarizou-se, sendo um péssimo exemplo – o de uma elite que se se mediocriza – para os que se esforçam para o Brasil subir alguns degraus de civilidade.

Quanto ao gesto de Marco Aurélio Garcia – o “top, top”, o desabafo em relação aos meios de comunicação: “Estão vendo? Mentiram? Agora, danem-se, ferrem-se.” – é preciso, com honestidade, ser analisado em outro contexto e sob outra perspectiva. Primeiro: ele se manifestou em caráter privado, ao lado de um assessor, podendo dizer-se ter sido “invadido” por uma câmera indiscreta. Apenas isso. E teve uma reação pessoal e humana, diante de um massacre precipitado, irresponsável e irrefletido de quase toda a grande imprensa brasileira. Garcia não fez qualquer avaliação da crise, mas uma reação a essa superficialidade de má fé de certa imprensa. Por que tanto moralismo, quando Faustão, em todos os domingos, invade lares e é convidado especial das grandes, honradas e, agora, ofendidas famílias brasileiras?

A imprensa, tratando o brasileiro – e o piracicabano também – como idiota, perde o respeito.

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